Solução climática ou pesadelo radiativo? O dilema nuclear na Europa

Europa energia nuclear
TAPANI KARJANLAHTI (AFP)

Com apenas três dias de diferença, a Europa viveu dois momentos antagônicos em relação à geração de energia nuclear. Em 15 de abril, a Alemanha encerrou as operações de suas três últimas termonucleares em atividade, encerrando (ao menos por enquanto) o ciclo dessa fonte em seu território. Já no dia 18, a Finlândia inaugurou Olkiluoto 3, a maior usina nuclear do continente, com 1.600 megawatts de capacidade. É a primeira planta nuclear inaugurada na Europa em 16 anos.

Os dois países são altamente dependentes das fontes de energia da Rússia, como o gás natural, que vêm sofrendo sanções da União Europeia e dos Estados Unidos após a invasão da Ucrânia, em fevereiro do ano passado. Entretanto, ressalta o El Pais, Alemanha e Finlândia representam duas visões europeias opostas da sempre controversa energia nuclear.

De um lado, os alemães argumentam que os custos da fonte nuclear são muito altos e os riscos de acidentes são “em última análise, incontroláveis”, disse o ministro do meio ambiente Steffi Lemke. A Alemanha decidiu em 2002 interromper gradativamente a geração nuclear, mas a decisão foi acelerada após o desastre na usina nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011. Entretanto, o fechamento dos três últimos reatores do país, que estava marcado para 31 de dezembro de 2022, foi adiado para abril, justamente pela crise energética provocada pela guerra da Ucrânia.

Do outro lado está a França, que afirma com igual veemência que a energia nuclear é uma alternativa confiável e de baixo carbono aos combustíveis fósseis para gerar eletricidade. Os franceses dizem que eliminá-la quando a Europa tenta reduzir emissões de gases de efeito estufa é prejudicial e economicamente sem sentido.

O debate não é novo, lembra o Guardian. Mas, com um terço dos reatores nucleares do bloco chegando ao fim de sua vida útil original em 2025 e um objetivo legalmente vinculativo de reduzir as emissões líquidas de GEE em 55% em relação aos níveis de 1990 até 2030, está se tornando cada vez mais intenso.

No fim de março, a UE aprovou um acordo para aumentar a participação de fontes renováveis na matriz energética do continente para 42,5% em 2030 – a meta até então era de 32%. A proposta incluiu concessões à energia nuclear, resultado da pressão dos franceses.

Enquanto isso, o Greenpeace e outras organizações ambientalistas ingressaram com uma ação no Tribunal de Justiça da União Europeia contra a Comissão Europeia. Questionam a decisão do bloco de rotular a energia nuclear – e também o gás natural fóssil – como investimentos favoráveis ​​ao clima, relata o Earth.org.

“Vamos lutar contra esse rótulo verde falso no tribunal. Estudaremos a resposta da comissão, mas sua hipocrisia implacável sobre combustíveis fósseis e energia nuclear é puro greenwashing, e podemos provar isso”, disse Ariadna Rodrigo, ativista de finanças sustentáveis ​​do Greenpeace UE.

A disputa deve se estender e pode também chegar a outras partes do mundo. Isso porque um relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) apontou um crescente ímpeto da energia nuclear em muitos países, devido ao aumento dos preços dos combustíveis fósseis e às crescentes preocupações com o fornecimento estável de energia.As contradições da energia nuclear na Europa foram noticiadas também por RFI, O Globo, Um só planeta, Bloomberg e AP.

ClimaInfo, 25 de abril de 2023.

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