Petroleiras da América Latina e transição energética: realidade ou ficção?

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Dado Galdieri / Bloomberg

As companhias petrolíferas latino-americanas – sendo a brasileira Petrobras a maior delas em produção de petróleo – vivem um dilema. De um lado, o planeta, afetado pela crise climática, precisa de uma mudança drástica no consumo de energia, com a urgente substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis. De outro, acionistas e investidores ainda insistem que essas empresas devem buscar mais e mais petróleo, porque a transição energética “não se dará do dia pra noite”. No meio disso estamos nós, que sofremos na carne os efeitos das mudanças no clima e da deterioração ambiental provocada por essas atividades.

O Valor apresenta um breve resumo de como as petroleiras da América Latina estão incorporando a transição energética em suas rotinas. Na visão do mercado, porém, preocupa mais o fato das reservas e a produção latino-americanas de petróleo e gás natural estarem em queda do que a ausência de uma mudança efetiva de seu foco para as energias renováveis, como vêm tentando fazer as petroleiras europeias.

Surpreendentemente, um grande interessado no dinheiro oriundo da exploração de petróleo e gás deixou claro que a solução para a crise climática é acabar com os combustíveis fósseis. Foi o que disse o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, na sessão de abertura do Fórum Indígena das Nações Unidas, na semana passada. O país viu sua economia crescer nos últimos anos impulsionada pela expansão da produção dos energéticos de origem fóssil. Agora, Petro dá a entender que é hora de recuar.

No Brasil, os sinais são dúbios, apesar da imensa preocupação dos analistas de mercado (e dos rentistas) com o futuro da produção de petróleo da Petrobras. O presidente da companhia, Jean Paul Prates, diz que a petroleira vai investir pesado na transição energética, mas insiste em querer explorar petróleo na Foz do Amazonas – o que é reprovado pela área ambiental do governo Lula.

Futuro diretor de Transição Energética da petroleira brasileira, Maurício Tolmasquim admitiu recentemente que a empresa está atrasada na troca dos combustíveis fósseis por fontes renováveis, mas disse que a empresa tem tudo para “liderar” a descarbonização do país. Só que uma das grandes apostas da Petrobras para isso é a tecnologia de captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS, na sigla em inglês). Algo ainda caro, de baixa escala e com segurança duvidosa.

Por isso, é preciso prestar atenção no que especialistas do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC) alertam sobre a visão climática da Petrobras em Um só planeta. Segundo eles, não há preocupação em transformar a Petrobras em uma empresa energética; o gás natural é apresentado pela Petrobras como energia da transição, ignorando as características do setor energético brasileiro; o Caderno do Clima, documento com ações previstas pela empresa, não entra em tópicos polêmicos, como a expansão da Petrobras para áreas ambientalmente sensíveis; e falta à Petrobras uma estratégia ampliada de desenvolvimento socioambiental e transição energética.

Em tempo 1: Ambientalistas do Observatório do Marajó, do Instituto Mapinguari e da Purpose Brasil protestaram contra a intenção da Petrobras de explorar petróleo na Foz do Amazonas durante o Parlamento Amazônico (PARLAMAZ), que reúne parlamentares de oito países amazônicos e acontece até esta quarta (26/4) em Belém (PA). A expectativa das organizações é que conste no produto final do evento, a Declaração do Parlamento Amazônico sobre a Cúpula da Amazônia, a necessidade de maior responsabilidade socioambiental na questão da Foz do Amazonas, relata o Pará Terra Boa.

Em tempo 2: Enquanto indígenas argentinos vêm ao Brasil para alertar sobre os estragos provocados pelo fracking, usado na produção de reservas de gás e petróleo não convencionais, o governo do país vizinho se prepara para aumentar as exportações de óleo cru a partir de reservas desse tipo em Vaca Muerta. A estatal argentina YPF planeja investir entre US$ 6 bilhões e US$ 7 bilhões com parceiros em projetos de infraestrutura para aumentar os embarques da commodity para o exterior. Dentre os projetos em andamento está a Oleoductos del Valle, operadora que está dobrando sua capacidade de transporte para 452,8 mil barris/dia até o fim de 2024, detalha a epbr.

ClimaInfo, 26 de abril de 2023.

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