Ações de facção fortalecem permanência de garimpeiros na Terra Yanomami

facções Terra Yanomami
Arquivo pessoal/Rodrigo Chagas

O garimpo ilegal na Terra Yanomami tem sido sustentado por ações do Primeiro Comando da Capital, o PCC, e de outras facções criminosas. A relação entre a atividade garimpeira no território indígena e o crime organizado foi mencionada pelo presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, e é confirmada por pesquisadores e especialistas, após a escalada de violência que começou na TI no último sábado (29/4) e já deixou 13 mortos até o momento.

Segundo o sociólogo Rodrigo Chagas, da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o PCC controla a estrutura logística do garimpo para escoar drogas para outros países e estados. Ele diz que aviões que transportam ouro no garimpo também levam drogas, relata o UOL.

Chagas também conta que adolescentes são empregados para vender drogas nos garimpos – mesmo método usado pelo PCC no Sudeste. De acordo com o sociólogo, um grama de cocaína equivale a um grama de ouro, que custa R$ 290 nesses locais.

Há, segundo Chagas, três diferentes perfis de garimpeiros: aqueles que saíram do território após as operações da PF e da FUNAI; os que acreditaram que se tratava de uma política temporária; e os que resistem. Entre esses últimos estão os que seriam ligados às facções.

É o caso de Sandro de Moraes Carvalho. Um dos quatro garimpeiros mortos em confronto com agentes da PRF, ele era chefe de uma facção que comanda áreas de exploração ilegal no território e também era foragido da Justiça no Amapá por roubo qualificado, informa o g1.

O relatório do Instituto Socioambiental (ISA) chamado “Yanomami Sob Ataque” ainda aponta a existência de serviços de segurança privada prestados por grupos associados ao crime organizado. O PCC também controla casas de prostituição do garimpo, conhecidas como corrutelas.

Além do grupo criminoso paulista, o Comando Vermelho e facções venezuelanas passaram a controlar atividades importantes em áreas próximas ao garimpo. Eles controlam o transporte terrestre, por rotas em fazendas; o aéreo, com o controle das pistas de pouso; e o fluvial, por monitoramento dos rios. A diferença entre o PCC e as demais facções é que o grupo paulista atingiu maior capilaridade na região e maior domínio sobre as atividades criminais em Boa Vista, capital do estado.

Enquanto o crime organizado mostra seu poder sobre a TI Yanomami, o número de mortos continua subindo. Na terça (2/5), a Polícia Federal encontrou os corpos de oito garimpeiros no rio Mucajaí, no território indígena. Segundo fontes ouvidas pelo O Globo, os mortos foram alvo de um contra-ataque dos indígenas pelo assassinato do agente de saúde Ilson Xirixana no sábado, na comunidade Uxiú. Outros dois indígenas foram feridos por garimpeiros no mesmo ataque.

A violência na TI Yanomami ganhou ampla repercussão na imprensa, com cobertura de Estadão, Folha, Correio Braziliense, g1, Terra, Veja, Folha de Boa Vista, Metrópoles, Estado de Minas, Diário do Nordeste, Carta Capital, Correio da Bahia e Amazônia Real, entre outros veículos.

Em tempo: O ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou uma ação do Podemos contra a portaria do governo federal que restringiu o acesso de pessoas à Terra Yanomami, conta Lauro Jardim n’O Globo. A portaria, assinada pela FUNAI e pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), do Ministério da Saúde, permite o acesso apenas de servidores em missão no território indígena. O ministro justificou que sua decisão ocorreu por motivos técnicos – ou seja, o partido não enviou os documentos necessários para o processo.

ClimaInfo, 4 de maio de 2023.

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