A guerra da Ucrânia e as sanções do Ocidente ao petróleo e gás fóssil da Rússia voltaram a jogar os holofotes sobre a exploração de combustíveis fósseis no Ártico. Demanda antiga de países e petroleiras e terror de especialistas em meio ambiente, a busca por óleo e gás na região ganha novos contornos. O mesmo vale para as pesquisas sobre mudanças climáticas, também afetadas pelo conflito. E a tensão passou a incluir a China, que está a milhares de quilômetros da região.
O alto Ártico é uma zona internacionalmente neutra que há muito se mantém afastada da geopolítica. Mas a administração da região está em questão justamente como resultado do isolamento da Rússia por causa da guerra. O Conselho do Ártico – o principal órgão de cooperação entre as oito nações que compartilham a tutela – está no limbo. Suas reuniões estão suspensas desde o ano passado, e ninguém sabe o que vai acontecer após 11 de maio, quando os russos deverão entregar a presidência rotativa à Noruega, explica a Bloomberg.
A Rússia continua sendo membro do conselho e, portanto, “em princípio” estará envolvida em quaisquer decisões ou atividades, disse Thomas Winkler, embaixador do Ártico para a Dinamarca. Mas como isso realmente aconteceria no clima político atual “ainda é algo que está sendo considerado”, disse ele.
Longe do Ártico, a China construiu laços mais fortes com a Rússia para fornecer equipamentos na região, mostra um relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS). E o país oriental disse que não vai reconhecer o Conselho do Ártico se a entidade continuar evitando os russos.
A China procura pontos de apoio na região polar para poder acessar os ricos depósitos minerais, rotas marítimas e reservas de energia do Ártico. Todos esses recursos estão se tornando cada vez mais disponíveis à medida que o gelo do Ártico derrete, aponta o Quartz.
A Noruega, que vai assumir o conselho do Ártico nesta semana e adota um forte discurso ambiental, também está de olho nesses recursos, e já se prepara para perfurar poços em busca de petróleo e gás fóssil na região, informa a Bloomberg. As empresas que operam no país planejam mais perfurações nas áreas do Ártico no Mar de Barents, incentivadas pelo governo norueguês.
Em uma conferência sobre o Mar de Barents na semana passada, o ministro de Petróleo e Energia da Noruega, Terje Aasland, pediu às empresas que cumpram sua “responsabilidade social” e “não deixem pedra sobre pedra” para encontrar mais recursos de gás natural no Mar de Barents. “A aventura do petróleo no norte está apenas começando”, disse Aasland, de acordo com o oilprice.com.
O Ártico está aquecendo quatro vezes mais rápido que qualquer outro lugar do mundo, e por isso é uma área significativa de pesquisa para pesquisadores do clima e do meio ambiente. Mas, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, a comunidade científica internacional perdeu o acesso a mais da metade do Ártico – a enorme porção da região polar que fica na Rússia. O resultado é a perda de pesquisas climáticas críticas, destaca a CBC.
Desde a invasão da Ucrânia, a Alemanha e outros países europeus se uniram aos Estados Unidos e ao Canadá para impedir que seus cientistas colaborem na maioria dos projetos com os russos. “Estamos isolados desta parte do Ártico”, explicou Anne Morgenstern, cientista do permafrost do Instituto Alfred Wegener da Alemanha, que coordenou a presença alemã na estação de pesquisa na ilha russa de Samoylov. “É uma tragédia, toda a situação, e todos esperam que essa guerra horrível termine logo”, disse ela à Science.
ClimaInfo, 9 de maio de 2023.
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