Negação da crise climática ganha força no Twitter de Elon Musk

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Cientistas e meteorologistas que por anos usaram o Twitter para combater a desinformação contra a mudança do clima viraram alvo dos negacionistas, impulsionados pela leniência irresponsável de seu novo dono, o bilionário Elon Musk.

A compra do Twitter por inacreditáveis US$ 44 bilhões em outubro passado já tinha levantado essa possibilidade. Autointitulado “defensor radical da liberdade de expressão”, Musk fez exatamente o que prometia antes da operação: destroçou os mecanismos internos de monitoramento da rede, acabou com setores que lidavam com o combate à desinformação e, pior, liberou milhares de contas bloqueadas nos últimos anos por promover fake news e discurso de ódio dos mais diversos.

O Guardian fez um panorama das dificuldades enfrentadas por cientistas climáticos do Reino Unido com a disparada da desinformação negacionista. Além dos argumentos vazios e da falta completa de racionalidade de algumas postagens, o que chama a atenção é a mobilização massiva dos negacionistas para atacar seus alvos. Para muitos desses especialistas, a pressão é tamanha que começa a interferir na saúde mental deles.

“Passei anos debatendo fortemente com os céticos da crise climática, incluindo pessoas que suponho que foram pagas para defender esse discurso. Mas pode haver um custo pessoal real interagindo por um longo tempo com pessoas que estão abusando de você”, desabafou o estatístico Doug McNeall, do Met Office Hadley Center da Universidade de Exeter.

Ed Hawkins, que se notabilizou na última década no combate à desinformação climática no Twitter, também assinalou a violência da reação negacionista a qualquer postagem que reitere o conhecimento científico sobre o tema. “Uma fração maior dos comentários são pessoais e abusivos. Qualquer tweet levemente popular de um cientista do clima agora é alvo de uma enxurrada de respostas”.

Já a AFP destacou outra parte da ofensiva negacionista no Twitter: até mesmo meteorologistas que reportam previsão do tempo viraram “inimigos” a serem exterminados pelos céticos da crise climática na rede social. Isso tem se tornado mais nítido em países que experimentam eventos climáticos extremos, como a forte seca que atinge a Península Ibérica nos últimos meses.

“O coronavírus não é mais uma tendência. Teóricos da conspiração e negadores que costumavam falar sobre isso agora estão espalhando desinformação sobre a mudança do clima”, disse Alexandre Lopez-Borrull, da Universidade Aberta da Catalunha. “Esses corpos científicos são vistos como parte do establishment, então qualquer coisa que eles disserem pode ser contestada nas redes sociais. Eles estão fornecendo evidências contra o que os negacionistas do clima afirmam, então estes tentam desacreditá-los”.

A irresponsabilidade de Musk na condução do Twitter também trouxe problemas sérios para quem vinha se dedicando ao combate à desinformação na rede social, denunciando posts e contas que espalhassem mentiras e distorções sobre o assunto. A BBC e a Euronews destacaram o caso dos “caçadores de trolls” que, de 2019 a 2022, conseguiram banir cerca de 600 usuários que disseminavam a desinformação climática.

A canetada do bilionário acabou ressuscitando todas elas e liberou uma onda de ódio direcionado àqueles que denunciaram os negacionistas. Para resguardar sua segurança particular, muitos desses caçadores saíram de cena, mas alguns insistem em seguir na luta contra o negacionismo, com ou sem a colaboração do Twitter.

Em tempo: Na mira de reguladores governamentais nos EUA e na Europa, a rede social chinesa TikTok anunciou em abril passado uma atualização de sua política de combate à desinformação que estabeleceu que qualquer conteúdo que “prejudique o consenso científico bem estabelecido” em torno da mudança do clima será retirado da plataforma. A empresa também afirmou que está introduzindo novos recursos de pesquisa para direcionar qualquer pessoa que procure por conteúdo sobre o clima para fontes de “informações confiáveis”, obtidas em parceria com a ONU. Mashable e Sky News deram mais informações.

ClimaInfo, 16 de maio de 2023.

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