Donos de espaços de elite têm fazendas sobrepostas a territórios indígenas

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Divulgação

Uma investigação feita pelo De Olho nos Ruralistas revelou as conexões entre dois dos espaços culturais mais nobres de São Paulo e Rio de Janeiro com o agronegócio e com a ocupação de áreas indígenas. Tanto a proprietária do palacete onde funciona a Casa de Francisca, na capital paulista, quanto os fundadores da Fábrica Bhering, no RJ, disputam a propriedade de terras, respectivamente, com comunidades Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, e Guarani Mbya e Nhandeva, na região de Paraty.

A proprietária do palacete “Tereza Toledo Lara”, onde funciona a Casa de Francisca, é dona também de três imóveis que incidem em 2,08 mil hectares da Terra Indígena Dourados-Amambaipeguá I. Já a família proprietária da Fábrica Bhering, que hoje serve como set para filmes e seriados, possui uma propriedade de pouco mais de 1,08 mil hectares sobrepostos à TU Tekoha Jevy (Rio Pequeno), no litoral sul fluminense.

Ao mesmo tempo, empreendimentos turísticos no Nordeste e no Pantanal também avançam sobre território indígena. No sul da Bahia, o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, tem um hotel que se sobrepõe à área delimitada da TI Tupinambá de Olivença. Já no Ceará, um empresário espanhol com suspeitas de ter sido operador financeiro da máfia italiana nos anos 1990, pretende construir o maior complexo turístico-residencial do mundo em parte da TI Tremembé da Barra do Mundaú. No Pantanal sul-mato-grossense, a TI Cachoeirinha foi parcialmente ocupada por um resort de ecoturismo acusado de vender ilegalmente carne de jacaré.

Os dados integram o relatório “Os Invasores: quem são os empresários brasileiros e estrangeiros com mais sobreposições em Terras Indígenas”. O documento identifica 1.692 sobreposições em 213 TI demarcadas pela FUNAI, totalizando 1,18 milhão de hectares. O levantamento foi feito a partir dos dados fundiários do INCRA.

Em tempo 1: A Agência Pública e a OCCRP tiveram acesso a mais de 100 GB de arquivos da empresa COSAN, com documentação relativa à compra de terras no Brasil. Os dados mostram como a gigante brasileira da indústria do açúcar e um fundo de pensão dos EUA se uniram para driblar as restrições para propriedades imobiliárias por estrangeiros no Brasil, o que envolveu também a compra de terras com acusação de grilagem. A maior parte das áreas compradas sob suspeita estão na fronteira agrícola do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

Em tempo 2: No “faroeste” do garimpo no PA, nem mesmo juízes estão a salvo da sanha de criminosos. A Repórter Brasil trouxe o caso do magistrado Vanilson Rodrigues Fernandes, titular da Vara do Trabalho de Xinguara. Em fevereiro de 2022, ele ordenou a apreensão de uma retroescavadeira de propriedade de João Anilton Brandão da Silva no âmbito de uma ação trabalhista de ex-funcionários que atuavam em um garimpo de propriedade de sua família. O garimpeiro ameaçou publicamente “matar a todos”, inclusive o juiz, como resposta. O UOL também abordou a situação.

ClimaInfo, 23 de maio de 2023.

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