Estudo avalia impacto da litigância climática no valor das empresas processadas

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Dean Mouhtaropoulos/Getty

As empresas que estão sendo processadas na Justiça por suas responsabilidades sobre a crise climática estão sentindo os efeitos no bolso – ou melhor, na bolsa de valores. Um estudo inédito do Grantham Research Institute, da London School of Economics, mostrou que a litigância climática começa a se tornar um risco financeiro para as empresas, especialmente no setor de óleo e gás, com reflexos negativos no preço de suas ações.

O estudo analisou 108 ações judiciais associadas à responsabilização pela mudança do clima entre 2005 e 2021 contra 98 empresas listadas em bolsas de valores dos Estados Unidos e da Europa. Os autores constataram que o ajuizamento de um novo processo ou uma decisão judicial contrária à empresa reduziu seu valor esperado em média 0,41%.

Ainda que a variação seja relativamente pequena, o estudo ressalta que, com os avanços da litigância climática contra a indústria fóssil, o risco financeiro dessas empresas deve aumentar. “Antes não sabíamos se os mercados se importavam com litígios climáticos. Esta é a primeira evidência que sustenta o que se suspeitava até agora: que empresas poluidoras e especialmente grandes empresas de carbono agora enfrentam risco de litígio, além de transição energética e risco físico”, comentou Misato Sato, principal autor do estudo, ao Guardian.

Os pesquisadores esperam que a análise encoraje os credores, reguladores financeiros e governos a considerar o efeito dos litígios climáticos ao tomar decisões de investimento em um futuro mais quente e, em última instância, conduzir a um comportamento corporativo mais ecológico.

Em tempo: A litigância climática pode ser também um caminho para combater o greenwashing de empresas que apresentam propostas vazias de descarbonização. Em artigo publicado na Página22, Roberto S. Waack, Marcelo Furtado, Ana Yang e Heraldo Geres destacaram como o litígio pode impulsionar a regulação governamental e mobilizar a sociedade em torno da implementação de metas climáticas pelas empresas. “A litigância passou a ser usada (…) como um instrumento para pressionar as empresas a serem mais cuidadosas e ativas na implementação de seus compromissos frente às questões da crise climática e da perda da natureza, seja combatendo a comunicação exagerada ou falsa (greenwashing), seja combatendo a falta de posicionamento público adequado, quando uma empresa adota uma postura de silêncio para metas socioambientais e de sustentabilidade (greenhushing)”, escreveram os autores.

ClimaInfo, 23 de maio de 2023.

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