Energia solar deve ter mais investimentos que petróleo pela primeira vez na História, projeta IEA

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Gareth Lewis / Alamy

Será que chegamos ao momento da virada definitiva dos combustíveis fósseis para a energia limpa e renovável? Neste ano, pela primeira vez na História, os investimentos em geração solar deverão superar os valores gastos com a produção de petróleo. É o que projeta a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

A invasão da Ucrânia pela Rússia – que afetou drasticamente o fornecimento de gás fóssil russo à União Europeia e mexeu com os mercados globais de combustíveis fósseis –, ajudou a desencadear um boom nos investimentos em energia limpa, relata o Guardian. E se a tendência de aumento na expansão das energias limpas persistir, ajudará a conter as emissões globais de gases de efeito estufa, enfatiza o diretor-executivo da IEA, Fatih Birol.

“Se esses investimentos em energia limpa continuarem crescendo de acordo com o que vimos nos últimos anos, em breve começaremos a ver o surgimento de um sistema energético muito diferente, e poderemos manter viva a meta de 1,5°C”, disse Birol ao Financial Times, referindo-se à meta de limite do aumento da temperatura determinada pelo Acordo de Paris.

De acordo com o último relatório de investimento em energia mundial da IEA, cerca de US$ 2,8 trilhões devem ser investidos globalmente em energia em 2023. Desses, mais de US$ 1,7 trilhão devem ser destinados a tecnologias limpas – incluindo renováveis, veículos elétricos, a polêmica energia nuclear, redes, armazenamento, combustíveis de baixa emissão, melhorias de eficiência e bombas de calor. O restante, pouco mais de US$ 1 trilhão, vai para carvão, gás e petróleo.

A expectativa da IEA é que o investimento anual em energia limpa aumente 24% entre 2021 e 2023, impulsionado por energias renováveis ​​e veículos elétricos, em comparação com um aumento de 15% no investimento em combustíveis fósseis no mesmo período. Entretanto, a agência ressalta que mais de 90% desse aumento vem dos países ricos e da China. O que cria um sério risco de novas divisões na energia global, se as transições de energia limpa não forem retomadas em outros lugares.

Lideradas pela fonte solar, as tecnologias de eletricidade de baixa emissão deverão representar quase 90% do investimento em geração de energia. Os consumidores também estão investindo em usos finais mais eletrificados. As vendas de veículos elétricos devem aumentar em um terço este ano, depois de já terem aumentado em 2022, aponta a IEA.

Mas nem tudo está limpo no cenário para 2023. Os gastos com petróleo e gás upstream devem aumentar 7% em 2023, voltando aos níveis de 2019. E a retomada nos investimentos em combustíveis fósseis significa aumentar para mais do que o dobro os níveis necessários em 2030 no Cenário de Emissões Líquidas Zero até 2050 da AIE.

Outro dado preocupante é que a demanda global por carvão atingiu um recorde histórico em 2022, e o investimento em carvão este ano está a caminho de atingir quase seis vezes os níveis previstos em 2030 no Cenário Net Zero, diz a IEA.

Bloomberg, Reuters, CNN, Al Jazeera, Oilprice.com, Upstream, CNBC, ABC, Axios e phys.org também repercutiram as projeções da IEA.

Em tempo: O mundo precisa que a geração de energias limpas e renováveis suplante o quanto antes a energia de origem fóssil. Mas essa expansão precisa cada vez mais considerar as demandas das comunidades onde os projetos renováveis pretendem se instalar, já que também causam impactos, ainda que em menor grau. O caso mais recente disso é o projeto eólico Windpeshi, de 205 megawatts, que está sendo instalado em La Guajira, no norte da Colômbia, pela italiana Enel. A empresa anunciou a suspensão das obras por tempo indeterminado, porque algumas comunidades da região estão bloqueando a construção. Segundo o El Pais, indígenas Wayuu de territórios do entorno do projeto reclamam que deveriam ser consultados e receber compensações pelos 45 aerogeradores que a Enel pretende instalar na região.

ClimaInfo, 29 de maio de 2023.

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