Ataque ao Cerrado se intensifica, e desmatamento no bioma bate recorde

Cerrado desmatamento
Arquivo / Agência Brasil

Maio ainda não terminou, mas os alertas do sistema DETER, do INPE, já indicam um novo recorde de desmatamento no Cerrado, tanto no mês quanto no acumulado anual, da série histórica, iniciada em 2019. Foram detectados 627 km² de áreas desmatadas de 1º a 18 de maio, equivalente ao tamanho de Salvador, na Bahia. E de janeiro a 18 de maio, a devastação soma 2.833 km² – similar aos territórios das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro juntas.

De acordo com as informações do DETER, Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins concentram a maior parte dos avisos de desmatamento em maio. Riachão Das Neves e São Desidério, na Bahia, e Mirador, no Maranhão, são os municípios com mais alertas, informam g1 e Agência Brasil.

Especialistas ouvidos pela Folha lembram que a proteção legal do Cerrado é quase inversa à da Amazônia. Enquanto propriedades rurais amazônicas devem proteger 80% da vegetação, a reserva legal mínima fica entre 20% e 35% no Cerrado. Além disso, o bioma tem apenas 7% de sua área total protegida, ante 50% da Amazônia.

Existe também uma pressão indireta que vem da regulação internacional, reforça a Folha. Leis do Parlamento Europeu restringem produtos que tenham ligação com o desmatamento na Amazônia, mas isso não vale para o Cerrado.

“Com a decisão da União Europeia de vedar o ingresso de produtos oriundos de regiões desmatadas, agrava-se a condição do cerrado brasileiro. É que o alvo dos europeus é a Amazônia, nossa floresta considerada a última cobertura vegetal nos trópicos e essencial para a mitigação dos males decorrentes das mudanças climáticas. Enquanto isso, o Cerrado resta desprotegido e a cupidez criminosa já se apercebeu da vulnerabilidade do bioma”, destaca José Renato Nalini, diretor-geral da Uniregistral, em artigo no Estadão.

O governo prometeu lançar um plano similar ao PPCDAm, destinado à Amazônia Legal, para estruturar ações de combate à devastação do Cerrado. O projeto deverá ser lançado em julho. E, diante dos fatos, mostra-se urgente.“O Cerrado é responsável pela água de quase 70% das bacias hidrográficas do Brasil. Estamos falando da savana mais rica do planeta, que ocupa 23% do país, abriga 5% da biodiversidade de todo o mundo e possui mais espécies de plantas com flores do que a própria Amazônia. Tão importante quanto os esforços empreendidos para combater o desmatamento na Amazônia, uma ação efetiva para a conservação e a recuperação do Cerrado é fundamental e urgente”, escrevem a pesquisadora Bruna Pavani e os diretores do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), Paulo Branco e Rafael Loyola, no Le Monde Diplomatique.

ClimaInfo, 30 de maio de 2023.

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