O derretimento do gelo na Antártica causou uma desaceleração de quase 30% em uma das principais correntes oceânicas globais, o que pode interferir no clima e nos níveis do mar em todo o mundo. Essa é a conclusão de um estudo publicado na semana passada na revista Nature Climate Change.
Segundo a análise, o chamado sistema de circulação do Oceano Antártico vem registrando uma redução no seu fluxo desde a década de 1990 decorrente da entrada maior de água doce derretida das calotas polares no extremo sul da Terra. A desaceleração acontece porque a água doce adicional está afetando o processo natural, a partir do qual a água mais fria e densa se movimenta nas profundezas da plataforma continental da Antártica e se espalham pelas bacias oceânicas em todo o mundo.
Em particular, o estudo analisou os efeitos disso na bacia antártica australiana, mas os cientistas argumentam que o processo é similar em outras bacias oceânicas, o que pode acarretar em um efeito cascata de nível global. Com a corrente mais lenta, a distribuição de oxigênio e nutrientes na superfície do oceano é prejudicada.
“Mudanças na circulação são um grande problema. É algo que preocupa porque afeta muitos aspectos da Terra, incluindo clima, nível do mar e vida marinha”, observou ao Guardian Steve Rintoul, oceanógrafo da Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization (CSIRO) do governo australiano e coautor do estudo. “Estamos vendo mudanças já acontecendo no oceano que não foram projetadas para acontecer até algumas décadas a partir de agora”.Do ponto de vista climático, as mudanças na circulação profunda nos oceanos podem afetar sua capacidade de absorção de gases de efeito estufa, ameaçando o principal sumidouro global de carbono, em plena crise climática. “A circulação invertida transporta dióxido de carbono e calor para o oceano profundo, onde é armazenado e escondido da atmosfera. À medida que a capacidade de armazenamento do oceano é reduzida, mais dióxido de carbono e calor são deixados na atmosfera. Esse feedback acelera o aquecimento global”, escreveram os autores no site The Conversation.
ClimaInfo, 31 de maio de 2023.
Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.
