A “comédia de erros” da agenda de negociação climática em Bonn

13 de junho de 2023
COP28 Bonn agenda
UNclimatechange

Há uma semana, negociadores de mais de 190 países não conseguem chegar a um acordo sobre um aspecto fundamental para qualquer negociação – a definição sobre o que raios está sendo negociado. A comédia de erros acontece em Bonn, na Alemanha, onde as Partes da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC) se reúnem em um encontro preparatório à COP28, programada para novembro nos Emirados Árabes Unidos.

Desde o dia 5, quando a 58ª sessão dos órgãos subsidiários da UNFCCC (SB58) se iniciou, os diplomatas não conseguem se entender sobre a agenda do encontro. Isso mesmo: uma semana discutindo uma agenda. Havia a expectativa de que essa espera terminasse na última 2ª feira (12/6), mas ela fracassou de forma monumental, com blocos de países trocando acusações mútuas.

A causa da discórdia é o desentendimento de países desenvolvidos e em desenvolvimento em torno da inclusão de um item novo na agenda de negociação da SB58 – o Programa de Trabalho para Mitigação (MWP, sigla em inglês). Proposto pela União Europeia, o programa visa (ao menos formalmente) incentivar um novo aumento da ambição dos compromissos nacionais de redução de emissões de carbono sob o Acordo de Paris.

O argumento de seus defensores é de que as contribuições nacionalmente determinadas (NDC) atuais são insuficientes e que as metas de cada país precisam ser elevadas o quanto antes para viabilizar o limite de 1,5oC para o aquecimento do planeta até 2100, em linha com o que foi apontado pelo IPCC em seu 6º relatório de avaliação (AR6).

Para a maior parte dos países em desenvolvimento, no entanto, o MWP nada mais é que mais uma tentativa das nações desenvolvidas de empurrar novos compromissos de mitigação sem qualquer tipo de discussão ou definição sobre o financiamento dessas ações. A cautela faz sentido: já vão se completar 14 anos desde que os países ricos prometeram destinar ao menos US$ 100 bi anuais para o financiamento climático; a promessa era de que esse valor seria atingido em 2020, o que até hoje não se cumpriu.

Para contornar o desentendimento, os países decidiram iniciar a sessão discutindo todos os itens propostos da agenda de forma preliminar, sendo que a validade de seus resultados estaria condicionada à aprovação posterior da agenda. Até houve uma articulação, encabeçada pela Noruega, para se chegar a um denominador comum antes da SB58 adentrar em sua 2ª semana.

O esforço foi vão: os países em desenvolvimento, puxados pela coalizão dos “like-minded” (LMDC), insistiram em derrubar o MWP e ainda jogaram lenha na fogueira ao propor um novo item na agenda, focado na ampliação do financiamento climático pelos países ricos. O resultado final foi constrangedor mesmo para o observador mais experiente das negociações climáticas da ONU, com União Europeia, Estados Unidos, Suíça, Bolívia e Cuba lavando roupa suja no meio da plenária de Bonn.

A situação não mudou muito na 3ª feira (13/6). Os presidentes dos órgãos subsidiários fizeram um pequeno stocktake para destacar os avanços obtidos nos diferentes itens da agenda da SB58, com o intento óbvio de mostrar aos negociadores o que está sendo posto em risco pela intransigência de alguns países. No entanto, não houve qualquer avanço prático rumo à adoção da agenda.

Sobrou para o Brasil fechar o stocktake com um apelo em favor do bom senso. “O que aconteceu ontem é inaceitável e não pode se repetir de novo. Os países precisam ir além dos seus interesses nacionais. Devemos sair do modo de negociação [pura e simples] e passar para o modo de entendimento mútuo”, disse Túlio Andrade, diplomata da delegação brasileira em Bonn.O Climate Home deu mais detalhes sobre a celeuma na SB58.

ClimaInfo, 14 de junho de 2023.

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