Relatório nomeia 42 políticos que têm fazendas invadindo Terras Indígenas

16 de junho de 2023
parlamentares em Terras Indígenas
DE OLHO NOS RURALISTAS

O discurso fervoroso de alguns parlamentares a favor do marco temporal para a demarcação de Terras Indígenas e contra direitos legítimos dos Povos Originários não é mera coincidência. Quarenta e dois políticos e seus familiares de 1º grau são titulares de imóveis rurais com sobreposições em TIs. No total, estamos falando de 96 mil hectares invadidos – quase a soma das áreas de Salvador e Belo Horizonte, capitais da Bahia e de Minas Gerais, respectivamente.

E não para aí. Dezoito deputados e senadores que integram a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) – a bancada ruralista – receberam recursos de fazendeiros que detêm propriedades sobrepostas a TIs. As doações totalizaram cerca de R$ 3,64 milhões, vindas de 15 doadores, detalha o Congresso em Foco.

Os dados são do dossiê “Os Invasores: parlamentares e seus financiadores possuem fazendas sobrepostas a Terras Indígenas”, elaborado pelo De Olho nos Ruralistas. O levantamento foi feito a partir do cruzamento das bases de dados fundiários do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e da FUNAI, com informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O relatório aponta ainda três parlamentares que possuem fazendas em TIs registradas em nome de suas empresas: o senador Jaime Bagattoli (PL-RO) e os deputados federais Dilceu Sperafico (PP-PR) e Newton Cardoso Júnior (MDB-MG). Os três, claro, são da bancada ruralista.

O senador Jaime Bagattoli é sócio do irmão na Transportadora Giomila, que integra o Grupo Bagattoli. A empresa é dona da fazenda São José, que se sobrepõe à Terra Rio Omerê, em Corumbiara, ressalta Carlos Madeiro, no UOL. E Orlando Bagattoli, irmão do senador, doou nada menos que R$ 2,81 milhões para sua campanha. Outros membros da família também fizeram doações.

Fora do parlamento, o Brasil de Fato mostra que o governador do Paraná, Ratinho Jr., Carlos Roberto Massa – o apresentador de TV Ratinho –, seu pai Gabriel Martinez Massa e seu irmão Rafael Martinez Massa são sócios da Agropastoril RGM, dona do latifúndio Gleba Panacre-Parte B, em Taraucá, no Acre. A fazenda invade 13,82 hectares da TI Kaxinawá da Praia do Carapanã, regularizada desde 2001.

Com 17 casos, o Mato Grosso do Sul lidera a lista. Em seguida, aparecem Mato Grosso e Maranhão, com sete casos cada, lista a Agência Brasil.

“Se os deputados querem debater seriamente invasão de terras no Brasil precisam entender quem declara fazendas em territórios indígenas. A desigualdade de renda anda de mãos dadas com a desigualdade fundiária, e a sociedade tem o direito de saber como as terras são apropriadas neste país”, diz o diretor do De Olho nos Ruralistas, Alceu Luís Castilho.

Em maio, o De Olho nos Ruralistas já tinha revelado as conexões entre dois dos espaços culturais mais nobres de São Paulo e Rio de Janeiro com a ocupação de TIs. Tanto a proprietária do palacete onde funciona a Casa de Francisca, na capital paulista, quanto os fundadores da Fábrica Bhering, no RJ, disputam propriedade de terras, respectivamente, com comunidades Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, e Guarani Mbya e Nhandeva, na região de Paraty.

Em tempo 1: O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) enviará à pasta da Justiça os processos para a demarcação de mais 13 Terras Indígenas no país. Dentre os territórios da nova leva está o de Barra Velha do Monte Pascoal, do Povo Pataxó da Bahia, que nos últimos meses sofre com a crescente violência nos conflitos por terra na região de Porto Seguro. No final de maio, um indígena foi baleado no território reivindicado pelo povo tradicional local, lembra a Folha. A ministra Sonia Guajajara deve viajar à Bahia na próxima semana para se encontrar com lideranças Pataxó.

Em tempo 2: Um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes suspendeu o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de uma ação que contesta a ampliação dos limites da Terra Indígena Ibirama Laklaño, do Povo Xokleng, em Santa Catarina. O julgamento envolve agricultores, comunidade indígena, madeireiras, União, FUNAI e Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), de acordo com o Poder 360. Vale lembrar que os Xokleng também encabeçam o processo que questiona o marco temporal na Corte – e que também foi paralisado por um pedido de vista, dessa vez do ministro André Mendonça, em 7 de junho.

Em tempo 3: Dados levantados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que as áreas de Terras Indígenas em alerta para atividade garimpeira mais que dobraram de janeiro a maio de 2023, em comparação com igual período do ano passado – de 600 ha para 1.300 ha. Segundo o Jornal Nacional, os territórios Munduruku e Kayapó estão no topo das áreas mais afetadas pela retirada irregular de ouro.

ClimaInfo, 16 de junho de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar