COP28 em perigo: sobram problemas, faltam liderança e cooperação

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UNclimatechange

“Ressaca” parece sintetizar bem a sensação de negociadores e observadores depois de 10 dias frustrantes de negociação da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) em Bonn, na Alemanha. Difícil achar alguém que tenha saído da última sessão dos órgãos subsidiários da UNFCCC (SB58) satisfeito com seus resultados, o que coloca um “emirado” de pontos de interrogação no meio do caminho até a COP28 de Dubai, em novembro.

A frustração é nítida até nas falas do secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell. “Nunca [poderia estar] satisfeito. Em termos de progresso razoável feito, sim. Mas foi o suficiente? Saberemos quando entrarmos na própria COP28”, disse à Reuters no final da SB58.

O cenário até Dubai é preocupante. Em um momento-chave para os esforços globais contra as mudanças climáticas, os países seguem divididos em temas cruciais, como financiamento, mitigação e perdas e danos, e com margens diminutas de manobra para viabilizar acordos. O que se viu em Bonn foi um reflexo disso: ao invés de entendimentos e concórdia, “lavação de roupa suja” e muita, mas muita discórdia.

“O progresso foi abaixo do esperado em quase todas as frentes, com um principal culpado: o dinheiro”, disse David Waskow, do World Resources Institute (WRI), à CNBC. “As discussões sobre o primeiro Global Stocktake [etapa da revisão cíclica quinquenal das NDCs sob o Acordo de Paris] ficaram paralisadas sobre como incorporar financiamento e meios de implementação. Isso adiciona outro obstáculo para alavancar o Global Stocktake e mobilizar outras ações transformacionais da COP28 para reduzir as emissões, aumentar a resiliência e fornecer mais financiamento”.

Um dos atores mais visados é a presidência da COP28, que será exercida pelo executivo petroleiro Sultan Al-Jaber. Ele passou discretamente em Bonn durante a SB58 e não se envolveu nas discussões, o que deixou alguns negociadores preocupados com o engajamento do comando da próxima COP nas negociações.

“A presidência da COP28 deveria ter uma liderança mais forte”, disse Camila Zepeda, chefe da delegação do México na SB58, à Bloomberg. “Sim, este é um processo movido pelas Partes. Mas repetidamente nos é mostrado que, se for deixado apenas para elas, nunca poderemos concordar com as coisas”.

Como bem assinalou o site POLITICO, Al-Jaber e os representantes dos Emirados Árabes Unidos deixaram Bonn sem convencer sobre sua capacidade de liderança e concertação nas discussões preparatórias à COP28. “Precisamos desesperadamente de um senso de estratégia e visão”, lamentou Alden Meyer, associado sênior do think tank E3G, sobre a “oportunidade perdida” pelo comando da próxima COP nas conversas deste mês na Alemanha.

Outro ponto de interrogação diz respeito ao financiamento das atividades da própria UNFCCC, um problema perene que jamais foi encarado com seriedade pelos países. Em Bonn, o secretariado da Convenção pediu aos países pelo menos US$ 91 milhões para viabilizar suas diversas atividades de gestão, capacitação e negociação ao longo de 2024 e 2025. No entanto, como assinalou o Climate Home, os países aceitaram um orçamento menor, de US$ 81 milhões.

O valor representa um aumento de quase 20% em relação ao atual orçamento, mas é insuficiente para atender às necessidades da UNFCCC. É importante ressaltar que essas atividades foram criadas pelos próprios países, o que gera uma situação curiosa: eles propuseram mais ações para a UNFCCC fazer, mas sem o dinheiro correspondente para viabilizá-las.

ClimaInfo, 21 de junho de 2023.

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