Guiana quer que Exxon devolva áreas de exploração de petróleo

Guiana Exxon exploração petróleo
REUTERS/Sabrina Valle

O governo da Guiana, país que virou ícone para os defensores da exploração de petróleo na foz do Amazonas por suas recentes descobertas, negocia com a Exxon Mobil a devolução de áreas que a petroleira estadunidense não explorou. O consórcio liderado pela Exxon, que controla a produção no litoral da Guiana, será obrigado a devolver 20% das áreas inexploradas sob o contrato original de 2016.

Os quilômetros quadrados a serem devolvidos incluirão partes do bloco Stabroek, a “joia da coroa”, de 26.800 km2, onde a Exxon já produz, e dois outros blocos ainda não em produção. A Guiana quer revender as áreas para outras companhias para acelerar o desenvolvimento econômico do país, leia-se obter mais royalties. De quebra, vai reduzir o domínio da Exxon sobre sua produção de combustíveis fósseis, explica a Reuters.

As autoridades do país pretendem aumentar a produção de petróleo e gás antes que a demanda caia devido à necessidade de reduzir as emissões de carbono para o zero líquido até 2050. A Reuters informa que o governo da Guiana adiou por cerca de um mês seu primeiro leilão de blocos de petróleo offshore enquanto finaliza novos termos da regulação de petróleo e gás. Foi o terceiro adiamento da oferta de 14 blocos.

O governo está desenvolvendo um novo modelo de Contratos de Produção e Partilha (PSA), de acordo com o oilprice.com. Shell, Chevron e Petrobras estão entre as 10 empresas que consideram licitar na rodada de licenciamento.

A Exxon e seus parceiros – Hess e CNOOC – produzem cerca de 375 mil barris de petróleo em suas duas plataformas. O grupo aprovou um total de US$ 45 bilhões em desembolsos para triplicar sua produção até 2027, por meio de cinco plataformas de produção de petróleo.Em tempo: O governo da Guiana pode até dar sinais de que quer se livrar da Exxon, mas a companhia “capturou” a Guiana “sem dar um tiro”. Isso porque, mostra o Intercept, é cada vez mais difícil determinar onde termina a empresa e começa o governo do país sul-americano. O veículo chama atenção para uma decisão de um tribunal da Guiana contra a Agência de Proteção Ambiental do país (EPA, na sigla em inglês) e a Exxon – estranhamente, corréus no caso. Dois cidadãos da Guiana acusaram a EPA por nunca exigir uma garantia da Exxon de que a empresa cobriria todos os custos relacionados a um possível derramamento de óleo. As avaliações da petroleira indicam que tal desastre poderia enviar óleo para as praias de 14 diferentes ilhas do Caribe – e todas poderiam responsabilizar a Guiana por danos. Os custos seriam astronômicos, razão pela qual as licenças para perfuração offshore exigem não apenas uma apólice de seguro de responsabilidade independente da Exxon, mas também uma garantia financeira ilimitada para cobrir custos que excedam os cobertos pelo seguro. O que a petroleira não fez e continua sem fazer. Os executivos da Exxon juntam-se ao presidente da Guiana em sua suíte nas partidas de críquete, e o vice-presidente regularmente dá coletivas de imprensa para defender a companhia. Vincent Adams, engenheiro de petróleo da Guiana e ex-chefe da EPA do país, disse que planejou ter monitores a bordo das plataformas da Exxon. “Tudo isso foi cancelado. Mesmo os arquivos e autorizações da Exxon, que costumavam estar no centro de documentos com todos os outros, estão trancados a sete chaves no escritório do diretor”, disse ele. “Não há supervisão acontecendo porque a Exxon não quer supervisão.” A história daria um excelente roteiro para um thriller sobre corrupção.

ClimaInfo, 22 de junho de 2023.

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