Os possíveis efeitos catastróficos do El Niño na Amazônia e na economia brasileira

El Niño 2023 Amazônia
Getty Images via BBC News Brasil

A Organização Meteorológica Mundial (WMO) chamou a atenção para a necessidade de os países se prepararem para os impactos do El Niño sobre a saúde das pessoas, os ecossistemas e a economia. No Brasil, as maiores preocupações se voltam para a Amazônia, a produção agrícola e o setor elétrico.

Segundo a bióloga brasileira Erika Berenguer, pesquisadora das universidades de Oxford e Lancaster, no Reino Unido, o fenômeno climático pode causar uma “hecatombe ambiental” no bioma amazônico, destaca a BBC. Tudo por causa da seca extrema que o El Niño costuma provocar na região, tradicionalmente úmida, que pode facilitar o desmatamento e as queimadas criminosas.

Para especialistas, o cenário pode ser pior do que o registrado entre 2015 e 2016, período do El Niño mais recente. Na época, lembra a Folha, houve redução de chuvas e intensa seca, que favoreceram a disseminação do fogo causado por humanos. “Passei meses na Amazônia em 2015 e foi traumático olhar tudo aquilo”, diz Berenguer.

Após quatro anos de uma gestão criminosa com a Amazônia, a região começou a ter o governo agindo contra sua devastação. O combate ao desmatamento começou a dar resultados, mas pode ser comprometido por causa dos efeitos do El Niño, explica o climatologista Carlos Nobre, em fala destacada pelo Pará Terra Boa.

“Isso (o desmatamento) só começou a cair principalmente a partir de abril. Se esse El Niño for realmente forte, o que há grande probabilidade, é uma grande preocupação porque vai aumentar o número de incêndios e destruir ainda mais a floresta, acelerando o processo de degradação”, reforça Nobre.

Na economia, o efeito mais perceptível do fenômeno climático se dá na agropecuária, segundo o g1. As mudanças de temperatura e no ciclo de chuvas podem interferir, tanto positiva quanto negativamente, em várias culturas agrícolas, e em diferentes regiões do país.

“Qualquer abalo significativo na produção da cana-de-açúcar pode trazer um aumento nos preços dos combustíveis, por exemplo. Já impactos nas culturas de soja e milho tendem a se refletir na ração de gado e podem acabar eventualmente alterando até os preços da carne”, explica Gleriani Ferreira, professora da Fundação Instituto de Administração (FIA) Business School.

Quanto à conta de luz, o grande problema é o aumento das temperaturas. Os reservatórios das hidrelétricas – a principal fonte de fornecimento de energia elétrica do Brasil – estão cheios, o que afasta, no curto prazo, o risco de aumento tarifário pela necessidade de se gerar eletricidade com combustíveis fósseis. Contudo, mais calor costuma gerar mais consumo e contas mais altas.

“O aumento do calor por causa do El Niño é uma preocupação. Talvez a conta de luz aumente para muitas pessoas, não por causa da variação da bandeira tarifária, mas por causa do aumento do consumo individual, com maior número de horas de ar condicionado e de ventiladores ligados”, alerta Ana Clara Marques, especialista da Climatempo em análises climáticas para o setor de energia.

Em tempo: Negociador-chefe do Brasil em questões ambientais, o embaixador André Aranha Corrêa do Lago diz, em entrevista ao Valor, que a Cúpula da Amazônia, que acontece em agosto em Belém, quer estabelecer uma linha de ação conjunta dos países amazônicos. Além de aumentar a cooperação entre as nações, o pacto deve servir para evitar que desmatamento e crimes ultrapassem fronteiras, criar uma liderança regional sobre a floresta e trazer a Amazônia para o mundo de hoje. “A Amazônia não tem um papel estático. Tem um papel importante dentro de uma economia contemporânea”, avalia Lago, secretário de clima, energia e meio ambiente do Ministério das Relações Exteriores. Ele assinala que a Amazônia “não pode ser reduzida à sua importância para a biodiversidade e mudança do clima”. E continua: “Qualquer que seja a definição de bioeconomia que se faça, a Amazônia terá um papel muito importante.”

ClimaInfo, 5 de julho de 2023.

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