ONU autoriza liberação de água contaminada da usina nuclear de Fukushima

Fukushima despejo água no mar
中村靖治/AP

A japonesa Tepco poderá liberar mais de 1 milhão de toneladas de água da usina nuclear de Fukushima Daiichi no Oceano Pacífico. Apesar das reclamações das comunidades pesqueiras locais e das incertezas lançadas por outros países da região, como China e Coreia do Sul, o descarte foi autorizado pela Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês), ligada à ONU.

Diretor-geral da IAEA, Rafael Grossi, disse na 3ª feira (4/7) que a última revisão de segurança do órgão sobre a descarga planejada “torna clara a ciência da liberação de água tratada para a comunidade internacional e responde às questões técnicas relacionadas para a segurança que foram levantadas”. Segundo o Guardian, o relatório da entidade afirma que a descarga da água teria “um impacto radiológico insignificante nas pessoas e no meio ambiente”.

A água a ser descartada é suficiente para encher 500 piscinas olímpicas. O tratamento do líquido é parte dos investimentos de quase US$ 150 bilhões feitos pela Tepco para limpar o acidente atômico, provocado por um tsunâmi em 2011, o pior acidente nuclear da história desde a explosão da usina de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, detalha a Bloomberg. Prevê-se que os tanques de armazenamento no sítio de Fukushima estejam cheios já em 2024, e o espaço para construir outros é escasso.

A maior parte da água radioativa de Fukushima vem do resfriamento dos três reatores danificados. Há um sistema avançado de processamento de líquidos (ALPS, na sigla em inglês) extraindo toneladas de água contaminada todos os dias, filtrando a maioria dos elementos radioativos, explica a Al Jazeera.

A água tem ficado apenas com trítio, um isótopo radioativo do hidrogênio difícil de separar do líquido. A Tepco diluirá a água até que os níveis de trítio caiam abaixo dos limites regulatórios antes de bombeá-la para o oceano.

A água contendo trítio é liberada rotineiramente de usinas nucleares em todo o mundo, porque ele é considerado relativamente inofensivo, por não emitir energia suficiente para penetrar na pele humana. Mas, quando ingerido, pode aumentar os riscos de câncer, segundo um artigo da Scientific American de 2014 apontado pela Reuters.

Enquanto isso, muitas das 2,3 milhões de pessoas que vivem em ilhas do Pacífico e dependem do oceano para alimentação e renda estão preocupadas. Muitos não estão informados sobre os planos da Tepco, reforça o Guardian.

“Não faço ideia do que o Japão está se preparando para fazer, dependemos de frutos do mar quase toda a minha vida, vivemos para nos alimentar de peixe todos os dias e é nossa fonte de renda para nós”, explica o pescador Charlie Maleb, da ilha Wala, em Vanuatu.

Harry Farhall pesca nos recifes da província de Nova Irlanda, na Papua Nova Guiné, local que ele diz ser um “terreno fértil para o atum e um caminho migratório para as baleias que migram para o norte e para o sul”. Ele diz que todos na área dependem do oceano. “Não podemos arriscar o ambiente marinho e as pessoas que dele dependem. Não estamos preparados para lidar com os efeitos do lixo nuclear”, ressalta.A autorização para o descarte da água de Fukushima no oceano foi destacada também por Bloomberg, BBC, DW, NewScientist, New York Times, Financial Times, ABC, Japan Times e Nikkei Asia.

ClimaInfo, 6 de julho de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.