Narcotráfico domina o que sobrou do garimpo na TI Yanomami

narcotráfico Terras Yanomami
Leo Otero / Ministério dos Povos Indígenas

Seis meses após o início do combate ao garimpo ilegal na Terra Yanomami, que provocou uma crise humanitária no território, o governo conseguiu retirar 82% dos garimpeiros que estavam na região. No entanto, os criminosos que permanecem na área são os mais perigosos, porque estão ligados ao narcotráfico e ao crime organizado. A informação é da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.

“Junho não teve nenhum alerta de novo garimpo. Agora nessa fase final tem uma situação bem mais violenta e perigosa. Tem aquelas pessoas que resistem a sair do território e estão provocando conflitos. São pessoas ligadas ao narcotráfico e ao crime organizado, que estão provocando conflitos de indígenas com indígenas para fazer de conta que são problemas internos”, explicou a ministra, em entrevista ao Repórter Brasil.

Na semana passada, um ataque na aldeia Parima, na TI Yanomami, causou a morte de uma menina, cujo corpo foi encontrado no domingo (9/7), informam Agência Brasil, g1 e Brasil de Fato. Outras cinco pessoas ficaram feridas. Segundo Júnior Hekurari Yanomami, presidente da Urihi Associação Yanomami e do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami (CONDISI-Y), indígenas estiveram envolvidos no incidente, mas foram municiados pelos garimpeiros, segundo o DW. “Um grupo de indígenas armados atacou essa família que ia à Unidade [de Saúde da aldeia]. Os garimpeiros estão aliciando os indígenas de Xitei, Parima, Aracaça, Tirei, Wathóu, que estão recebendo muitas armas, eu vi, só não deixaram eu tirar fotos”, disse.

Em outra frente de combate ao garimpo ilegal na TI, a Polícia Federal deflagrou na 2ª feira (10/7) a Operação Frutos de Ouro, informa o UOL. O objetivo é investigar a atuação de um grupo suspeito de movimentar R$ 80 milhões e que teria relação com uma rede de extração ilegal de ouro no território e lavagem de dinheiro, de acordo com o Valor.

Segundo a PF, o grupo investigado tem relação com uma apreensão de 5 quilos de ouro ocorrida no Aeroporto de Boa Vista em 2019. A entidade ainda aponta que uma joalheria de São Paulo enviou valores a dois suspeitos. As cifras movimentadas para cada um deles variam de R$ 15 milhões a R$ 50 milhões.

A luta contra o garimpo ilegal e a violência na TI Yanomami também foram destacadas por Guardian, Poder 360, UOL, Agência Brasil, g1, Brasil de Fato, TV Cultura, Folha de Boa Vista e Metrópoles.

Em tempo: Para a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, a proposta do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que, na votação do marco temporal na Corte propôs que o governo indenize ocupantes de Terras Indígenas, é uma forma de “tentar equilibrar” o conflito entre ruralistas e indígenas. Em entrevista ao Valor, Guajajara reconhece que a indenização ameaça a demarcação de novas TIs, por falta de orçamento, mas acredita que há um compromisso do governo Lula com a homologação dos territórios. “Realmente tem um risco, porque vai onerar muito o orçamento da União. A gente sabe que tem um limite no orçamento público para essas questões. Mas, agora, nessa gestão, tem também um interesse do próprio planejamento e do presidente Lula para garantir um orçamento para pagar o que precisa ser pago em relação à regularização das Terras Indígenas.”

ClimaInfo, 11 de julho de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.