Países discutem na ONU riscos da mineração em alto-mar

mineração fundo do mar
ANDREW JEHAN / GREENPEACE

A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA) da ONU iniciou na última 2a feira (10/7) em Kingston, na Jamaica, um encontro que pode ser decisivo para as pretensões de alguns países de explorar os recursos minerais no fundo do mar. Os países terão até o final da próxima semana para definir as regras gerais para esse tipo de exploração.

Além de governos, o tema é acompanhado com atenção por mineradoras e por indústrias que enxergam nas profundezas oceânicas uma “fronteira” a ser explorada na obtenção de metais e minerais essenciais para a transição energética. Já cientistas e ativistas ambientais observam a discussão com apreensão, pois os impactos da atividade mineradora no fundo do mar podem intensificar a perda da biodiversidade marinha, além de comprometer a capacidade dos oceanos de absorver carbono da atmosfera.

O tempo é um fator de pressão nessas conversas. A ISA tinha definido um prazo até o último dia 9 para definir essas regras, o que não foi cumprido. Com isso, os 167 países que fazem parte do grupo podem aceitar pedidos de licença de empresas que desejam iniciar a mineração, mesmo com a ausência de salvaguardas ambientais. Assim, os governos correm contra o tempo para definir logo essa regulação.

Sobre a mineração em alto mar, os países seguem divididos quanto à questão. Por exemplo, Canadá, França e Chile ressaltam os riscos da atividade e sugerem que, caso a ISA não consiga chegar a um entendimento sobre as regras, se defina uma moratória global. Já outros países, inclusive pequenos países insulares como Nauru, desejam iniciar logo essa exploração, de olho no dinheiro que essa indústria pode gerar.

Para os ambientalistas, a proximidade entre governos, ISA e as mineradoras causa desconfiança sobre as pretensões dos negociadores em Kingston. “O mandato da ISA é proteger os oceanos, mas a estreita ligação entre suas autoridades e a indústria tem deixado a credibilidade desta instituição por um fio. Se os governos levam a sério suas credenciais ambientais, eles têm que dizer não à mineração em alto-mar, sem choro, nem vela”, observou François Chartier, da Greenpeace France Oceans.

A oposição à mineração no fundo do mar ganhou mais uma voz nesta semana: a Global Tuna Alliance, que representa 32% das vendas globais de atum, se juntou a uma coalizão da indústria da pesca contrária à proposta. Para o grupo, a possibilidade da mineração começar a acontecer levanta preocupações ao setor, já que existiria uma “sobreposição significativa” entre as áreas pesqueiras e os blocos potenciais de exploração mineral.

AFP, Associated Press, Bloomberg, Sky News e Wall Street Journal repercutiram o começo das negociações na ISA. Já Bloomberg, Guardian e Reuters abordaram a oposição da indústria de atum à exploração mineral em alto-mar.

ClimaInfo, 12 de julho de 2023.

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