Dinheiro do Fundo Climático Verde da ONU pode cair no colo de desmatadores

Fundo Climático Verde ONU
Jay Yoo/Flickr

O Fundo Verde para o Clima (GCF, da sigla em inglês) da ONU causou desconforto entre ativistas climáticos nesta semana ao aprovar o financiamento de quase US$ 190 milhões a um programa de investimentos que financia algumas das maiores empresas agrícolas do mundo, inclusive de frigoríficos por trás do desmatamento no Brasil e em outros países. 

De acordo com o Climate Home, o montante liberado pelo GCF apoiará as atividades do &Green Fund, um fundo de investimentos dos Países Baixos que visa impedir o desmatamento nas cadeias produtivas da carne bovina, soja e óleo de palma, entre outros.

O &Green Fund informa que os recursos serão direcionados a empresas que adotem práticas sustentáveis; no entanto, entre aquelas que já receberam seus recursos está a brasileira Marfrig, que vira-e-mexe se enrola com problemas de desmatamento ilegal em sua cadeia de suprimento.

“Essas empresas deveriam ter mudado seus hábitos anos atrás, por causa de leis, regulamentos e políticas nacionais. Mas elas não o fizeram. Não é razoável acreditar que o problema [desmatamento] vai acabar pagando as empresas por trás dele. É pagar aos poluidores em vez de fazê-los pagar”, observou Florencia Ortuzar, da Associação Interamericana de Defesa Ambiental (AIDA).

O &Green Fund justificou que os recursos liberados pelo GCF ajudarão essas empresas a “mudar o paradigma” de suas operações, o que pode também facilitar a atração de investimentos sustentáveis de origem privada. O conselho do GCF chegou a questionar esse raciocínio, especialmente pelo fato das empresas beneficiadas pelo fundo não terem problemas em acessar financiamento em geral. Ainda assim, a proposta foi aprovada.

Ainda sobre o GCF, o Climate Home informou que representantes governamentais e conselheiros chegaram a um acordo sobre a nova estratégia do Fundo para o período 2024-2027. Negociadores de 24 países (12 desenvolvidos e 12 em desenvolvimento) superaram as desavenças para destravar a definição.

De acordo com a estratégia, o GCF prevê movimentar entre US$ 2 e US$ 3 bilhões por ano nesse período, ligeiramente superior à média de US$ 2 bi anuais movimentados nos últimos três anos. O Fundo vislumbra a possibilidade desse financiamento aumentar para até US$ 3,75 bilhões por ano, a depender da disponibilidade de novos recursos.

A fonte dos recursos, no entanto, é o nó que segue atado. Enquanto os países em desenvolvimento defendem que o mundo desenvolvido coloque mais dinheiro público nessa conta, os governos ricos insistem em “diversificar” os doadores, incluindo instituições financeiras multilaterais, setor privado e países emergentes.

Em tempo: Outra decisão do conselho do GCF nesta semana foi a criação do Blue Green Bank (BGB), uma instância financeira que fará parte da estrutura do Fundo e lidará principalmente com as necessidades de financiamento para adaptação climática nos países insulares em desenvolvimento. A decisão foi celebrada pela primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, que classificou a criação do BGB como um game-changer para o financiamento climático.

ClimaInfo, 12 de julho de 2023.

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