No Nordeste, eólicas e termelétrica afetam e preocupam comunidades

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O Nordeste vem ganhando destaque cada vez maior na produção de energias renováveis no país, em especial a partir dos ventos que sopram na região. 

Dos 26 GW eólicos instalados no Brasil, quase 24 GW estão em estados nordestinos, segundo a ABEEólica, associação do setor. Entretanto, tais projetos também têm afetado o Cerrado, a Caatinga e as comunidades rurais e tradicionais da região.

“Onde eles botam essas bichas, ninguém pode trabalhar. Onde tem essas bichas, casa não pode ter perto. Que nem essa aí”, protesta José Ponciano de Oliveira, 73 anos, enquanto aponta para o enorme aerogerador, de 135 metros de altura, construído ao lado de sua casa. “Porque se uma bicha dessas voa para cima de uma casa, não acaba com tudo? Oitenta mil quilos?”, questiona o agricultor.

Oliveira mora há mais de 40 anos no sítio Cabeça dos Ferreira, Comunidade Quilombola Macambira, entre os municípios de Bodó, Lagoa Nova e Santana do Matos, no interior do Rio Grande do Norte. A região é uma dentre diversas outras dos estados do Nordeste que têm experimentado o avanço de eólicas – e, com eles, ameaças ao estilo de vida da população.

Em viagem pelo Rio Grande do Norte, campeão de geração eólica no país, e Paraíba, a Agência Pública encontrou, além do incômodo perturbador do barulho, desmatamentos, danos a cisternas de armazenamento de água potável e violações a direitos. Para especialistas, processos de licenciamento ambiental simplificados, com poucas exigências, estão na origem do problema. E nem mesmo a promessa de desenvolvimento local tem se concretizado.

Em Sergipe, no município de Barra dos Coqueiros, a ameaça a famílias pesqueiras, agricultoras e extrativistas não vem só das eólicas, mas também da termeletricidade a gás fóssil. A cidade abriga o Parque Eólico de Sergipe e a Usina Termoelétrica Porto de Sergipe I, considerada a maior termelétrica a gás da América Latina, lembra a Agência Pública.

Barra dos Coqueiros, conhecido também como Ilha de Santa Luzia, tem aproximadamente 41 mil moradores e está a apenas 3 km da capital Aracaju. As duas cidades são separadas pelo rio Sergipe, fonte de subsistência de comunidades pesqueiras e marisqueiras. As encostas do rio são ambiente ideal para o plantio de espécies da restinga, a exemplo da mangaba, fruta símbolo do estado, que também é fonte de renda para os moradores locais, assim como a coleta de cocos. Mas estas atividades estão sendo ameaçadas pelos empreendimentos energéticos, bem como pela instalação desenfreada dos condomínios de luxo no território.

O Ceará é o quarto estado do país em capacidade eólica instalada. Mas o que vem tirando o sono é a possível instalação de usinas movidas a vento nas águas do mar. Calejadas com a rápida expansão de parques eólicos em terra nos últimos anos – um processo de ocupação de território muitas vezes cercado de violações de direitos –, comunidades temem que as offshore repitam e ampliem os conflitos, atingindo em cheio a pesca artesanal.

Em encontro com pescadores artesanais em Fortaleza na 6ª feira (28/7), o ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, disse que as reivindicações devem entrar na pauta das negociações sobre a regulamentação das eólicas offshore e serão levadas ao governo federal e discutidas no âmbito dos ministérios, informa o Diário do Nordeste. Os pescadores se preocupam com a alteração da dinâmica da fauna local. Para muitos deles, a pesca é atividade de subsistência.

ClimaInfo, 2 de agosto de 2023.

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