Com Lula hesitante, colombiano Petro desponta como liderança regional contra petróleo na Amazônia

Gustavo Petro petróleo Amazônia
Divulgação Presidência Colômbia

Oposição à produção de combustíveis fósseis na Amazônia, defendida por especialistas, ambientalistas e indígenas, ganha ressonância política com apoio do presidente da Colômbia, Gustavo Petro.

Enquanto o Brasil de Lula ainda vislumbra novos projetos de exploração petroleira na Amazônia, a Colômbia de Gustavo Petro sai da Cúpula de Belém como a principal voz política na oposição à energia fóssil na região amazônica. A hesitação do presidente brasileiro sobre o assunto coloca o país na defensiva em um tema no qual poderia estar na dianteira.

A Folha abordou o contraste entre Lula e Petro na questão dos combustíveis fósseis. O líder colombiano tem sido explícito em sua oposição à energia fóssil e aproveitou a Cúpula de Belém para fazer um apelo a outros governos progressistas da região: ouvir a ciência e trabalhar por uma transição verde justa e o mais imediata possível, sem atrasos.

“[Os governos de] direita têm um escape fácil, que é o negacionismo, negam a ciência. Para os progressistas, é muito difícil. Gera, então, outro tipo de negacionismo: falar em transições”, disse Petro na semana passada. A ministra colombiana do meio ambiente, Susana Muhamad, foi na mesma linha. “A falácia é que às vezes se fala em transição como se fosse começar ‘algum dia’. E, na verdade, o recado é que o mais importante é acelerar e começar agora para acabarmos com o petróleo e tentarmos fechar as fronteiras extrativistas”.

A visão de Petro, no entanto, não é a mesma de Lula e de outros governos amazônicos, que ainda vislumbram a possibilidade de extrair mais petróleo e gás nas próximas décadas na Amazônia, a despeito do alerta de cientistas climáticos sobre a necessidade de diminuir o mais rápido e substancialmente possível o consumo de combustíveis fósseis. Ao final, como o Infobae explicou, essa diferença foi decisiva para que a Declaração de Belém abordasse a questão da energia fóssil de forma muito tímida, bem aquém daquilo proposto por Petro – e não alinhada com o que a ciência recomenda para evitarmos mudanças climáticas catastróficas.

“A atuação do Itamaraty para evitar a proposta colombiana de incluir o fim da exploração de petróleo na Amazônia na Declaração (…) não contribui para fortalecer o soft power brasileiro na agenda climática”, assinalou Gustavo Pinheiro no Um Só Planeta. “É tarde, mas ainda há tempo para o governo Lula corrigir os rumos da diplomacia e da política doméstica. Negar a realidade não vai ajudar o presidente a ter sucesso na construção de um legado para as próximas gerações”.

Em tempo: O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, recorreu à realidade paralela ao defender a continuidade da exploração de combustíveis fósseis. “Nós temos estudos que apontam, de forma clara e cristalina (…) que contrapõem exatamente essa posição do IPCC [contra a produção contínua de energia fóssil]”, disse o ministro. É uma boa hora para Silveira mostrar ao Brasil e ao mundo esses “estudos”, já que ninguém faz a menor ideia do que ele está falando. Ele não o fará, pois, como Reinaldo José Lopes bem colocou na Folha, citando o lendário Padre Quevedo, esses estudos non eczistem. “O buraco climático que já cavamos é tão fundo, mas tão fundo, que, a rigor, em vez de cogitar a abertura de novos poços, a Petrobras deveria estar pensando em quando vai fechar os que ainda estão operando”.

 

ClimaInfo, 14 de agosto de 2023.

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