Em uma aposta eleitoral arriscada, o premiê britânico Rishi Sunak adiou prazos para acabar com a venda de carros a combustão e aquecedores a gás.
O governo do primeiro-ministro Rishi Sunak confirmou na última 4ª feira (20/9) que pretende mexer em políticas climáticas importantes do Reino Unido, em um movimento visto como arriscado mesmo entre seus aliados políticos. As medidas afetam diretamente a capacidade das autoridades britânicas de cumprir seus objetivos climáticos e mancham a imagem internacional do país, que se coloca como “líder climático”.
Em discurso, Sunak confirmou que o Reino Unido adiará os prazos para acabar com a venda de carros novos a combustão e aquecedores a gás. O governo prorrogou por mais cinco anos a possibilidade de comercialização de veículos novos a gasolina e diesel, de 2030 para 2025. Além disso, o plano para interromper a instalação de novos sistemas de aquecimento a gás até 2035 foi enfraquecido, com medidas que flexibilizam as restrições e isentam os proprietários de imóveis de cumprir metas de eficiência energética.
A justificativa, de acordo com Sunak, seriam os altos custos que essas políticas trariam aos consumidores britânicos e que o governo precisa de uma “abordagem mais pragmática, proporcional e realista” para cumprir seus objetivos climáticos. “Não quero tomar decisões de curto prazo, saídas fáceis e, em última análise, não ser franco com o país sobre o que isso significa para ele”, disse o premiê.
No entanto, as medidas recentes de Sunak estão associadas a interesses de curto prazo – em especial, as eleições gerais de 2024. O Partido Conservador, que governa o Reino Unido desde 2010, está em baixa nas pesquisas e caminha para ser desbancado pela oposição trabalhista, liderada por Keir Starmer.
O argumento de Sunak é digno de um malabarista desesperado: ele quer vender os conservadores como defensores de uma transição verde mais pragmática, amigável ao business-as-usual, a despeito das políticas climáticas atualmente vigentes no Reino Unido terem sido feitas e implementadas por governos conservadores.
As mudanças não foram bem vistas mesmo entre atores da indústria. A presidente da Ford no Reino Unido, Lisa Brankin, criticou a decisão de Sunak. “Nosso negócio precisa de três coisas do governo britânico: ambição, comprometimento e consistência. Um relaxamento [da meta] de 2030 prejudicaria todos os três”, disse, citada pelo Guardian.
“Acho isso chocante e realmente decepcionante”, criticou o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, também citado pelo Guardian. “Talvez o povo do Reino Unido provoque uma mudança na perspectiva da nação – e possivelmente até na liderança.”
Associated Press, Bloomberg, Estadão, Financial Times, Reuters e Washington Post destacaram a notícia e a reação de lideranças políticas, empresariais e sociais ao enfraquecimento da política climática do Reino Unido.
Em tempo: O presidente dos EUA, Joe Biden, criou um novo programa para engajar jovens em esforços contra a crise climática. Batizado de American Climate Corps, o programa é inspirado em iniciativas do New Deal de Franklin Delano Roosevelt (1933-1945) e do New Frontier de John F. Kennedy (1961-1963) e pretende arregimentar cerca de 20 mil jovens para ações como plantio de árvores, instalação de painéis solares, conservação florestal e prevenção de incêndios florestais. Associated Press, Bloomberg, Guardian e NY Times deram mais informações.
ClimaInfo, 22 de setembro de 2023.
Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.