Cientistas explicam impactos do clima extremo provocado pelos combustíveis fósseis sobre a Amazônia

Freepik

Frear o desmatamento já não é o bastante para garantir que a maior floresta do mundo e demais selvas tropicais sobrevivam ao aquecimento global acumulado neste século. É o que a comunidade científica vem enfatizando e o painel da ONU de ciência climática, IPCC, esclarece em detalhes. 

 Por isso, o abandono dos combustíveis fósseis, responsáveis principais por este aquecimento, é uma das medidas defendidas pela sociedade civil para impedir que a floresta atinja seu ponto de colapso neste século. A defesa se insere no contexto da Cúpula da Amazônia, que será realizada em Belém do Pará, nos dias 8 e 9 de agosto. Uma série de eventos da pré-cúpula Diálogos Amazônicos, de 4 e 6 de agosto, abordará o tema (veja esta pequena lista). E no Equador, um referendo no dia 20 de agosto poderá fazer história ao proibir a extração de petróleo no Parque Yasuní e outras atividades exploratórias em áreas protegidas da Amazônia.

 O ClimaInfo e a ONG Periodistas por El Planeta convidaram três pesquisadores nesta quinta-feira (3) para comentar o assunto: Paola Árias, professora da Universidade de Antióquia, e membro do IPCC; Ane Alencar, diretora científica do IPAM; e Andrés Gómez Orozco, da ONG colombiana Censat Agua Viva. Eles explicaram os diferentes impactos para Amazônia decorrentes da mudança climática provocada pelos combustíveis fósseis (veja a gravação da apresentação neste link). 

 

Aspas:

Paola Árias, professora da Universidade de Antióquia, membro do IPCC, disse:

 “Temos que levar em conta que uma floresta como a Amazônia não cresce e amadurece em questão de 10 anos ou 20 anos. Por isso é tão importante preservar a vegetação que temos atualmente, e muitos estudos mostram que, na medida em que temos um maior nível de desmatamento na Amazônia, níveis críticos podem ser alcançados em termos de estabilidade desse bioma, mas também em termos de mudanças regionais no sistema climático das regiões.”


 Ane Alencar, diretora científica do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), disse:

“Nos últimos 38 anos, a Amazônia foi o bioma que mais queimou no Brasil […]. As queimadas na Amazônia estão diretamente relacionadas ao aumento do desmatamento. Mas houve uma redução importante no desmatamento este ano em relação ao ano passado, ao mesmo tempo em que as queimadas não acompanharam esta tendência de queda. O que explica esse cenário é que os picos históricos de fogo estão muito relacionados a eventos climáticos, principalmente o El Niño, que causa uma seca mais pronunciada na Amazônia.” 

 “Amazônia e o petróleo não combinam. […] O Brasil pode estar indo totalmente na contramão da onda do século 21, que é a descarbonização do transporte e da matriz energética. Acho que o presidente [Lula], e outros chefes de Estado, precisam se colocar na liderança.”


 Andrés Gómez Orozco, coordenador do portfólio de Energia da Censat Agua Viva, Colômbia, disse.

 “É necessária uma política transnacional que elimine gradualmente nossa dependência de combustíveis fósseis, e especificamente na Amazônia dadas suas condições. A forma de acabar com os combustíveis fósseis tem que incorporar a responsabilidade do Norte global.”

 “O esforço fundamental deve ser para não gerar mais áreas para extração de combustíveis fósseis. No caso da Amazônia, seu ecossistema não deve ser aproveitado para novas explorações de combustíveis fósseis, mas sim deve ser protegido e impulsionada para a transição com renováveis”

 

ClimaInfo, 3 de agosto de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.