BNDES, Petrobras e o “jogo dos erros” do petróleo na foz do Amazonas

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Pergunta de 1,5ºC: por que o banco e a petroleira não apresentam investimentos em renováveis e param de querer produzir mais petróleo para transição energética?

Petrobras, BNDES e a ala pró-energia suja do governo federal vêm adotando uma estratégia narrativa para empurrar goela abaixo a exploração de petróleo na foz do Amazonas. Assim como o senador Marcelo Castro (MDB-PI) acha que basta mudar o nome da bacia para “Foz do Amapá” para que o IBAMA autorize a perfuração de um poço numa região de altíssima sensibilidade ambiental, os desenvolvimentistas passadistas afirmam que a solução é falar em “transição energética”. Assim, para eles, a exploração de combustíveis fósseis se justifica.

Foi o que se viu, pela enésima vez, no seminário “Caminhos para a transição energética justa no Brasil”, promovido pelo BNDES na 4ª feira (11/10). Como mostra o Fakebook, do Observatório do Clima, para defender a abertura de uma nova fronteira de energia suja na costa norte do país, Aloizio Mercadante, presidente do banco estatal, e Clécio Luís, governador do Amapá, repetiram teses falaciosas, como a de que a exploração de petróleo bancará a transição energética, ou inverificáveis, como a de que os recursos da exploração reduzirão desigualdades.

O tema do evento – transição energética justa – ficou em segundo plano. Assim, continuamos sem resposta para a pergunta de 1,5ºC, o limite de aumento de temperatura combinado no Acordo de Paris: afinal, quando BNDES e Petrobras vão apresentar planos concretos e robustos de investimentos em fontes renováveis de energia e apresentar metas de redução de recursos para combustíveis fósseis?

“Precisamos qualificar a noção de transição. Se não, vira um adjetivo fácil que vamos adesivando. A transição justa significa sair de algum lugar onde estamos, passar por outro e chegar a um diferente. Se não, não há transição. Qual a transição que estamos fazendo? Ela se iniciou? O que estamos fazendo do ponto de vista de investimentos para chegar a outro lugar? Qual o prazo?”, questionou Sérgio Leitão, do Instituto Escolhas, em sua participação no seminário. Silêncio.

Ao invés de responder, Mercadante disse querer estreitar as relações com a Petrobras e defendeu os investimentos da estatal na Margem Equatorial – outra estratégia narrativa para evitar falar em “Foz do Amazonas”, como quer o senador Castro. O foco do banco, disse seu presidente, é financiar os fornecedores da petroleira, informam O Globo, Valor e Broadcast. Mas, seguindo o roteiro “morde-e-assopra”, Mercadante falou que tem de ter “respeito ao IBAMA”.

Ainda no seminário – que, lembremos, previa discutir “transição energética justa” –, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse estar confiante de que o órgão ambiental dará a licença de perfuração de um poço de petróleo na foz do Amazonas. Ele estima que isso ocorrerá no primeiro semestre de 2024, segundo Estadão, Folha, Valor, IstoÉ Dinheiro e Petróleo Hoje. A transição? Fica pra depois.

Mercadante, Prates e companhia ainda receberam o reforço do governador do Pará, Helder Barbalho, nos planos de investir mais em energia suja. No mesmíssimo seminário, Barbalho afirmou que a petroleira deve liderar o processo de transição ecológica na Amazônia. Disse ainda que o Pará não escolheu a indústria de óleo e gás como vocação, mas que era favorável às “pesquisas” – leia-se “exploração” – da petroleira na foz, relata o Valor.

Em tempo: Para não dizer que não se falou de renováveis no seminário do BNDES, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse que a companhia tem potencial para ser referência na geração eólica offshore, informam Agência Brasil e IstoÉ Dinheiro. “Quem faz isso (exploração de petróleo em águas profundas) pode entrar tranquilamente no offshore eólico. São grandes estruturas de aerogeradores e estruturas de escoamento de energia em que são aproveitadas, inclusive, plataformas de petróleo que já deixaram de ser utilizadas para o primeiro fim”, explicou Prates. Falta “só” toda a regulamentação para a geração eólica offshore, que ainda está sendo discutida no Congresso Nacional, e também diretrizes ambientais para a instalação dessas estruturas.

 

ClimaInfo, 16 de outubro de 2023.

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