Zema e Tarcísio disputam título de “Dom Quixote” dos carros elétricos

Brasil carros elétricos
Leandro Fonseca/Exame

Governadores de MG e SP ficam na contramão de movimentos recentes de estados para reduzir a carga tributária e facilitar a venda de veículos elétricos. 

Dois autointitulados representantes do liberalismo econômico resolveram rasgar o roteiro liberal e encontraram um inimigo comum a enfrentar: os carros elétricos. Na semana passada, Romeu Zema (NOVO-MG) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) chamaram a atenção por falas e decisões que contrariam o que outros governadores e estados estão fazendo para facilitar a adoção dessa tecnologia entre os motoristas brasileiros.

A primeira derrapada foi dada pelo governador mineiro, integrante de um partido que se gaba por representar princípios liberais da economia. Em uma fala durante o evento de apresentação do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (COSUD), Zema fez uma curiosa defesa protecionista contra a vinda dos carros elétricos. 

“Nós temos que lembrar: o carro elétrico é uma ameaça aos nossos empregos aqui. A transição para o carro elétrico envolve a importação de baterias, que pouquíssimos países produzem. Envolve destruirmos aqui milhões de empregos de uma cadeia produtiva que não vai ter mais sentido, peças de motor a combustão, escapamentos, uma série de itens que não são utilizados no carro elétrico”, disse o mineiro.

Alguém que preza a modernização da economia diria que essa constatação deveria servir como impulso para o desenvolvimento da tecnologia elétrica na indústria automobilística brasileira. Mas Zema resolveu “enfiar a cabeça na areia” e defender o protecionismo puro e simples para manter uma indústria que, como ele colocou, deixará de fazer sentido em algumas décadas. Estadão, O Tempo e Valor repercutiram a fala de Zema.

Enquanto o colega mineiro enxerga moinhos de vento ilusórios nos carros elétricos, o governador paulista Tarcísio de Freitas deu uma canetada para barrar um projeto de lei aprovado pela Assembleia de São Paulo que isentava o pagamento de IPVA para carros elétricos. O veto foi formalizado na última 6ª feira (20/10) no Diário Oficial do Estado.

De acordo com o governo paulista, a proposta aprovada pelos deputados estaduais estaria “em descompasso com o vigor da produção do etanol e com as perspectivas de utilização do biometano produzido no estado”. Em resposta, Tarcísio também encaminhou à Assembleia um novo projeto de lei que isenta o IPVA apenas de veículos movidos exclusivamente a hidrogênio ou híbridos com motor elétrico e a combustão flex.

Como a Folha assinalou, a proposta do governador paulista irritou representantes da indústria automobilística eletrificada. De acordo com Ricardo Bastos, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico, a medida prejudica os donos de carros 100% elétricos. “Sempre tratamos a questão da eletrificação e dos biocombustíveis como uma agenda de somar. Não é uma coisa ou outra. O Brasil tem de participar com todas as tecnologias, ser efetivamente o lugar para testar todas as tecnologias do ponto de vista mais eficiente”, disse.

O veto de Tarcísio à isenção do IPVA aos carros elétricos em SP também foi abordado pela CartaCapital, CNN Brasil e TV Cultura.

 

ClimaInfo, 23 de outubro de 2023.

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