Negociadores correm contra o tempo para superar divisões políticas sobre fontes de recursos e gestão do futuro fundo de compensação para perdas e danos climáticos.
Um dos principais itens da agenda de negociação da Conferência do Clima de Dubai (COP28) segue travado mesmo depois de quase dez meses de negociação. Sem consenso em torno do futuro fundo de compensação para perdas e danos decorrentes da mudança do clima, os negociadores tentarão uma última rodada de conversas nos próximos dias, com o objetivo de diminuir o máximo possível os desentendimentos entre países ricos e pobres em torno da proposta.
A Pré-COP, evento realizado em Abu Dhabi nos últimos dias para marcar a contagem regressiva para a abertura da COP28, serviu como palco para conversas. Ouvido pela AFP, o negociador egípcio Mohamed Nasr afirmou que “quase 80% do texto” está acordado.
Ao portal The National News, dos Emirados Árabes, o ministro do clima da Irlanda, Eamon Ryan, foi ainda mais otimista. “Acho que um dos negociadores disse na sessão desta manhã que 85% [da proposta] está pronta. Isso não é insignificante e nos dá o impulso real para obter os últimos 15%”, afirmou.
Mas o otimismo mascara o que tem sido até aqui uma discussão bastante dura entre países desenvolvidos e em desenvolvimento sobre o formato geral do fundo e sua governança. Na última sessão de negociação, a insistência dos governos ricos de colocar o futuro fundo sob responsabilidade do Banco Mundial irritou as nações mais pobres e vulneráveis, que enxergaram mais uma tentativa de esvaziar o processo multilateral sob o guarda-chuva institucional da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
“Se [as negociações sobre] perdas e danos não forem bem-sucedidas, a COP28 não terá sucesso”, alertou Avinash Persaud, negociador de Barbados, ao site The New Humanitarian. Já o representante da Noruega, Georg Borsting, foi mais direto. “Se não conseguirmos resolver uma questão tão complexa em um grupo de 24 países [que compõem o grupo negociador], entregando a tarefa para uma COP com 190 Partes, o esforço fica ainda mais complicado”.
Enquanto isso, a Bloomberg informou que a Coalizão da Alta Ambição, grupo que reúne diversos países europeus e pequenas nações insulares, vai subscrever a proposta da União Europeia para que os negociadores da COP28 discutam o abandono gradual dos combustíveis fósseis. Além dessa demanda, o grupo também pediu que a COP defina o fim da produção de carvão e da expansão das minas existentes, bem como a redução das emissões de metano para perto de zero.
Em tempo: A comunidade de negociadores e observadores climáticos teve duas perdas importantes. O diplomata britânico Pete Betts, um dos líderes da delegação europeia na COP21 em 2015, que finalizou o Acordo de Paris, morreu aos 64 anos no último dia 23. Betts foi um dos arquitetos da Coalizão da Alta Ambição, que impulsionou a adoção do limite de 1,5oC de aquecimento no texto final do acordo. Já o cientista Saleemul Huq faleceu no sábado (28), aos 71 anos, em Bangladesh. Observador veterano das negociações climáticas e participante de todas as COPs até aqui, Huq era uma das figuras mais destacadas na defesa da Justiça Climática e da adaptação aos efeitos da mudança do clima.
ClimaInfo, 1º de novembro de 2023.
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