Brasil chega à COP28 querendo retomar protagonismo político contra a crise climática

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Ricardo Stuckert

Depois de quatro anos de constrangimentos e frustrações, o Brasil chega à COP de Dubai preparado para retomar um papel proativo nas negociações do clima.

Sai o Brasil acanhado, desconfiado e pouco confiável de Jair Bolsonaro, entra o Brasil proativo e cooperativo de Lula. A Conferência do Clima de Dubai (COP28) marca o retorno da diplomacia brasileira como um dos protagonistas das negociações climáticas depois da troca de governo.

A Bloomberg destacou o esforço do Brasil para deixar o figurino de “pária internacional” que adornou a diplomacia bolsonarista nos últimos quatro anos e reassumir sua condição de liderança internacional em clima. Para tanto, o governo federal leva em sua bagagem resultados positivos no combate ao desmatamento, Calcanhar-de-Aquiles histórico do país, e novas iniciativas para impulsionar a ação climática global.

Uma das propostas que o governo brasileiro apresentará em Dubai é a da criação de um fundo específico para financiamento a ações de proteção e conservação florestal, o que poderia beneficiar cerca de 80 países com estoques de florestas tropicais intactas. Míriam Leitão deu mais informações n’O Globo.

A queda de 22,3% na taxa de desmatamento na Amazônia entre agosto do ano passado e julho deste ano, como mostrou o sistema PRODES, do INPE, depois de quatro anos de descontrole e incentivos perversos do governo Bolsonaro, também favorece o reposicionamento brasileiro nas negociações climáticas. Ainda mais porque, destrinchando esse número de agosto a dezembro de 2022, sob Bolsonaro o desmatamento subiu 54%, e caiu 42% de janeiro a julho deste ano, já como resultado das ações do governo Lula.

Por outro lado, como assinalou o Estadão, a persistência das queimadas na Amazônia e da perda vegetal no Cerrado é uma dor de cabeça para o governo – e um argumento para o país captar mais recursos para financiar novas ações de proteção florestal.

A delegação brasileira em Dubai será a maior já enviada pelo país a uma Conferência do Clima da ONU. De acordo com Um Só Planeta, cerca de 2,4 mil pessoas foram registradas pelo Itamaraty, sendo 400 apenas do governo federal. A relação inclui representantes de governos subnacionais, empresas, organizações da sociedade civil e cientistas.

Os integrantes do Consórcio Amazônia Legal também estão na delegação brasileira para a COP28. O Globo destacou que a relação inclui nomes com histórico no mínimo problemático quando o assunto é meio ambiente e clima. Por exemplo, os governadores Antonio Denarium (Roraima), defensor do garimpo ilegal da Terra Yanomami, e Mauro Mendes (Mato Grosso), que está enrolado em uma investigação sobre comércio ilegal de mercúrio para exploração de ouro na Amazônia e numa campanha aberta e feroz contra a atuação de organizações da sociedade civil em seu estado.

Em tempo: A caminho de Dubai, o presidente Lula visitou a Arábia Saudita, onde participou de eventos com empresários e reuniões com lideranças políticas do país. Além de destacar a queda do desmatamento e os compromissos climáticos do Brasil, o presidente brasileiro também afirmou que o país quer ser a “Arábia Saudita da energia verde” em dez anos. “Vamos fazer todo o possível para que (…) o Brasil [se torne] o centro do mundo na produção de energia alternativa, porque acho que precisamos todos trabalhar com responsabilidade para descarbonizar o planeta”, disse Lula. BBC Brasil, Folha e Poder360 repercutiram a fala.

 

ClimaInfo, 30 de novembro de 2023.

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