Presidente da COP28 nega acusações de conflito de interesses, mas nega saída de comando de petroleira

COP28 Sultan al-Jaber nega acusações
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Sob pressão, Sultan al-Jaber nega acusações de que aproveitou encontros sobre a COP28 para promover vários acordos comerciais para petroleira que preside nos Emirados Árabes.

Presidente da ADNOC, o executivo Sultan al-Jaber quebrou o silêncio e, nesta 4ª feira (29/11), negou que tenha discutido acordos comerciais que beneficiariam a petroleira durante encontros preparatórios para a COP28. Para ele, a notícia é uma “tentativa de minar o trabalho da presidência da COP28”.

“Eu juro que nunca vi esses talking points que eles [a reportagem da BBC e do Centre for Climate Reporting que revelou a informação] se referiram e que nunca os usei em minhas discussões”, disse al-Jaber a jornalistas pouco depois de um evento pré-COP em Dubai.

As denúncias deixaram al-Jaber em uma situação ainda mais delicada enquanto chefe das negociações da COP28. Desde o anúncio de sua indicação para o comando da Conferência de Dubai, o executivo é alvo de críticas de ativistas climáticos e observadores da sociedade civil por se manter à frente da petroleira ADNOC, em um claro conflito de interesses.

Em resposta, ele tem se posicionado como uma “ponte” entre as negociações climáticas e a indústria de combustíveis fósseis, que terá presença inédita na COP de Dubai. O argumento do presidente da COP é de que o setor é parte da “solução” da crise climática e que o encontro nos Emirados Árabes pode impulsionar a agenda da transição energética.

Além da pressão, al-Jaber também encarou ontem uma mentira que tomou conta das redes sociais – a de que ele teria se afastado do comando da ADNOC para se dedicar exclusivamente às negociações climáticas. “O release de imprensa [que informava sua suposta renúncia da presidência da petroleira] não foi emitido pela equipe da COP28, não tem base verídica e deve ser totalmente considerado como uma fake news”, disseram os organizadores da COP em uma rede social.

“As críticas a al-Jaber podem não tê-lo levado a se demitir, mas certamente criaram pressão sobre a presidência da COP para provar que não está agindo para favorecer os negócios do petróleo e gás dos Emirados Árabes”, observou Justin Worland na TIME. “Para isso, al-Jaber terá de enfiar a mão em um agulheiro, moderando não apenas os interesses dos Emirados, mas também os de países influentes e ricos em petróleo, como a Arábia  Saudita, que estão interessados em relativizar a linguagem da discussão sobre a eliminação gradual dos combustíveis fósseis”.

AFP, Associated Press, BBC, Bloomberg, CNN, Euronews, Reuters e Washington Post, entre outros veículos, repercutiram a notícia. No Brasil, a resposta de al-Jaber também foi destacada por Exame, Folha e Valor.

 

ClimaInfo, 30 de novembro de 2023.

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