Crime organizado se expande e já afeta quase 60% da população da Amazônia

Amazônia crime organizado
Instituto Mãe Crioula

Expansão das facções aumenta indicadores de violência na região e agrava ações criminosas ligadas à devastação ambiental da Amazônia, como desmatamento, garimpo, grilagem e incêndios.

“A expansão de facções criminosas [na Amazônia] provenientes do Sudeste implicou um processo de fortalecimento e profissionalização dos grupos locais. Novas rotas criminosas foram surgindo, bem como articulações com outros ilícitos, como o garimpo e os crimes ambientais, impondo enormes desafios às instituições responsáveis pela manutenção da lei e da ordem. Não há, portanto, como debater estratégias e políticas para manter a Floresta Amazônica de pé sem considerar a grave ameaça que o crime e a violência representam na região hoje.”

A apresentação do documento “Cartografias da violência na Amazônia”, lançado na 5ª feira (30/11) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Instituto Mãe Crioula, reitera o que especialistas e autoridades vêm apontando desde que o governo federal retomou ações sistematizadas de combate ao crime na Amazônia Legal: facções ganharam terreno na região, não apenas expandindo o tráfico de drogas, mas também associando-se aos crimes ambientais que devastam a Floresta Amazônica.

De acordo com o relatório, ao menos 22 facções criminosas nacionais e estrangeiras atuam na Amazônia Legal. O estudo mapeou a presença de facções em 178 das 772 cidades da região (25%), um a cada quatro municípios. Em 80 deles, há disputa entre facções. E a presença desses grupos criminosos impacta na violência e no tráfico, destaca o g1.

Um terço dos amazônidas vive em áreas conflagradas e em disputa por facções criminosas. São pelo menos 8,3 milhões de pessoas que, em suas rotinas, estão sujeitas às dinâmicas de violência extrema, como troca de tiros entre criminosos e assassinatos à luz do dia, relata O Globo. E 59% da população da região, ou 15,4 milhões de pessoas, vivem sob o domínio de pelo menos um desses grupos.

O domínio do narcotráfico se reflete, obviamente, nos indicadores da violência. Em 2022, a taxa de mortes violentas intencionais na região chegou a 33,8 mortes por 100 mil habitantes, 45% superior ao índice de 23,3 vítimas da média nacional, informa a Folha. A taxa de feminicídios foi de 1,8 para cada 100 mil mulheres, 30,8% superior à média nacional, de 1,4 por 100 mil. E a taxa de estupros foi de 49,4 vítimas para cada 100 mil pessoas, 33,8% superior à média nacional, de 36,9 por 100 mil no mesmo período, detalha o g1.

Quanto aos crimes “tradicionais” da Amazônia, o documento aponta um aumento de 85,3% nos crimes vinculados ao desmatamento entre 2018 e 2022; 51,3% nos casos de incêndios criminosos; e 275,7% nas ocorrências relacionadas à grilagem.

Houve também aumento expressivo da exploração do ouro: o imposto recolhido cresceu 294,7% na Amazônia Legal, ante 153,4% no Brasil. O dado pode pressupor legalidade nas ações, mas o estudo aponta para esquemas de lavagem e legalização do minério extraído em Terras Indígenas, como constatado no início deste ano no Território Yanomami, destaca a CNN.

“Com 59% da população morando em cidades dominadas por crime, não tem Acordo de Paris que dê conta. Não tem agronegócio que mude esse modelo, nem oportunidade de emprego e renda. O inimigo, inclusive do meio ambiente, é o crime”, sentencia o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança, Renato Sérgio de Lima.

Os dados da violência na Amazônia foram repercutidos em diversas matérias da Folha, Terra, Metrópoles, Estadão, CNN, BBC, CNN, g1, UOL e O Globo.

 

ClimaInfo, 1º de dezembro de 2023.

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