Fazendeiros se mobilizaram por WhatsApp para invadir a Terra Caramuru-Catarina Paraguassu, no sul baiano; uma indígena do povo Pataxó Hã Hã Hãe foi morta.
Uma indígena foi assassinada no último domingo (21/1) durante a invasão da Terra Indígena Caramuru-Catarina Paraguassu, localizada no sul da Bahia, por fazendeiros armados. Duas pessoas foram detidas, incluindo o autor dos disparos que mataram Maria de Fátima Muniz, conhecida como Nega Pataxó.
De acordo com o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), a ação criminosa reuniu 200 pessoas, entre fazendeiros e comerciantes da região, que se organizaram por meio de um grupo de WhatsApp. O grupo pretendia tomar à força, sem qualquer decisão judicial, a Fazenda Inhuma, localizada dentro do território indígena e ocupada pelos Pataxós no dia anterior.
O Globo teve acesso a um dos posts compartilhados no grupo de WhatsApp. Nele, um membro do autointitulado “Movimento Invasão Zero” combinou um local de encontro dos invasores antes da ação. “Na Bahia, invasão de propriedade não se cria”, diz a mensagem.
Além da vítima fatal, a ação também resultou em pelo menos outros dois feridos: o irmão de Nega Pataxó, o cacique Nailton Pataxó, que foi alvejado no rim e passou por cirurgia; e uma mulher que teve o braço quebrado. No entanto, os indígenas afirmam que alguns seguem desaparecidos depois de fugirem do ataque e podem ter sido mortos em outros locais.
“É inaceitável o ataque contra o Povo Pataxó Hã Hã Hãe”, classificou a ministra Sonia Guajajara em um post no falecido Twitter. “A área é reivindicada pelos Pataxó Hã Hã Hãe como de ocupação tradicional e foi ocupada pelos indígenas no último sábado. Os fazendeiros armados cercaram a área com dezenas de caminhonetes e atacaram os indígenas”.
O crime foi amplamente abordado pela imprensa, com manchetes no Bom Dia Brasil e Fantástico (TV Globo), e reportagens no Brasil de Fato, CartaCapital, CNN Brasil, Correio Braziliense, Folha, g1, Metrópoles, Poder360 e UOL.
Em tempo: A aprovação do marco temporal pelo Congresso Nacional, a revelia de uma decisão contrária à tese do Supremo Tribunal Federal (STF), deixou em suspenso os novos processos de demarcação de Terras Indígenas pela FUNAI. A própria presidente da autarquia, Joenia Wapichana, afirmou que a nova lei vai prejudicar os Direitos dos Povos Indígenas e que espera por sua derrubada no STF por inconstitucionalidade. De acordo com o InfoAmazonia, um dos processos paralisados é o da TI Yguá Porã, em Santa Catarina – por ironia, o mesmo estado de onde a tese do marco temporal emergiu e foi alvo de discussão jurídica por anos.
ClimaInfo, 23 de janeiro de 2024.
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