Especialistas mostram caminhos para abandonar os combustíveis fósseis como sinalizado na COP28

Kristalina Georgieva
FMI

Chefe do FMI, Kristalina Georgieva, dá dica preciosa: transferir US$ 7 trilhões anuais de subsídios para combustíveis fósseis para a luta contra as mudanças climáticas

Apesar de muito mais tímido do que se esperava, o texto final do Global Stocktake (GST) da COP28 indicou que os países devem se esforçar para deixar os combustíveis fósseis para trás, substituindo-os por fontes renováveis de energia. Desde então, especialistas e autoridades vêm discutindo como transformar o acordo em realidade e aposentar petróleo, gás e carvão, etapa essencial para frear as mudanças climáticas.

A Agência Pública analisou estudos e ouviu especialistas que apontam como poderia se dar esse abandono definitivo dos combustíveis fósseis, em matéria reproduzida pela Carta Capital. Uma dessas rotas foi desenhada pela Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês). Em estudo lançado em 2023 sobre o que precisaria ser feito para chegar ao net zero em 2050, a entidade projeta a necessidade de haver uma queda de 25% na demanda por combustíveis fósseis até 2030. Isso pode ser possível, de acordo com a IEA, com a expansão na oferta de energias renováveis, triplicando até 2030 a capacidade global das renováveis de gerar energia, além de dobrar a taxa anual de melhoria da eficiência energética no mesmo prazo.

Diretor-executivo do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), André Ferreira destaca que o ponto chave da discussão é a redução da demanda por petróleo, gás e carvão. “Na COP28, o foco esteve na produção (dos combustíveis), pelo fato da sede ter sido um país produtor e exportador de petróleo, mas precisamos falar das duas coisas juntas”, pontua. “É necessário manter um ritmo de produção e oferta de fontes renováveis suficiente para que seja possível abandonar novas fronteiras de exploração de fósseis”, completa. O gargalo, ele explica, está no uso de renováveis no setor de transportes e na indústria.

Prazos diferenciados para que cada país abandone petróleo, gás e carvão são um dos pilares de um relatório lançado durante a COP28 pela Civil Society Equity Review. O outro é o apoio financeiro que algumas nações vão precisar para fazer a transição. “Os dois elementos determinantes de qualquer proposta quantitativa de eliminação gradual (dos fósseis) plausivelmente justa – prazos e apoio – são inseparáveis”, destaca o documento.

Na semana passada, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, deu outra dica preciosa. No Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça, ela disse que os países precisam transferir para a luta contra as mudanças climáticas cerca de US$ 7 trilhões usados anualmente para subsidiar combustíveis fósseis. O valor inclui US$ 1,3 trilhão em subsídios governamentais diretos, bem como subsídios indiretos, como a não fixação do preço das emissões de carbono, informam Reuters e Folha.

Essa virada de chave, porém, não será nada fácil. Em evento paralelo ao fórum, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, denunciou que alguns países estão tentando escapar do “transition away” do GST, relata a Bloomberg. É o caso da Arábia Saudita, a maior produtora global de petróleo. Em um evento na capital do país, o ministro da Energia do país, Abdulaziz bin Salman, afirmou que o principal acordo da COP28 para a transição dos combustíveis fósseis é apenas uma das várias “opções” de “menu à la carte”, segundo o Climate Change News.

Diante dessas ameaças, Pedro Pedroso, presidente do bloco de países em desenvolvimento G77 mais China, alertou que o acordo feito nas negociações climáticas do ano passado em Dubai corria o risco de fracassar. Em entrevista ao Guardian, Pedroso disse que a credibilidade do acordo depende dos maiores poluidores históricos do mundo, como EUA, Reino Unido e Canadá.

O mesmo vale para a União Europeia. O bloco precisa reformular suas políticas para conseguir uma eliminação progressiva dos combustíveis fósseis se quiser atingir suas ambiciosas metas climáticas, destaca a Reuters. Apesar da UE ter defendido o acordo firmado na COP28, as políticas do bloco não estão alinhadas com a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis nas próximas décadas e precisarão de ser revistas para atingir zero emissões líquidas até 2050, afirmou num relatório o Conselho Consultivo Científico Europeu sobre Alterações Climáticas.

 

ClimaInfo, 24 de janeiro de 2024.

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