Safras em áreas desmatadas são mais afetadas por mudanças climáticas

Safras áreas desmatadas afetadas

Segundo uma pesquisa da UFMG, áreas desmatadas tiveram um atraso de cerca de 76 dias no início da estação chuvosa agrícola entre 1999 e 2019.

Os eventos extremos vêm atingindo em cheio o setor agrícola brasileiro – um dos principais responsáveis pelas mudanças climáticas –, ao ponto de aumentar em pelo menos 300% os pedidos de recuperação judicial em 2023. Mas, se há uma “lei do retorno” do clima contra quem o agride, o “castigo” tem sido maior em áreas que foram desmatadas para a expansão do agronegócio.

Um estudo publicado na Royal Meteorological Society mostra que o desmatamento tem modificado o clima local e regional no Brasil. Um efeito disso é que as produções de soja e milho do país estão sendo prejudicadas pelas mudanças climáticas que essas atividades ajudaram (e continuam ajudando) a agravar.

De acordo com os pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) responsáveis pelo estudo, áreas desmatadas registraram um atraso de cerca de 76 dias no início da estação chuvosa agrícola entre 1999 e 2019. Além disso, houve diminuição de 360 mm nas chuvas e aumento de 2,5°C na temperatura máxima. Para chegar a esses números, os cientistas usaram estimativas diárias de volume de chuva e calcularam a extensão de perda florestal no período selecionado, explica o Observatório do Clima.

Ainda segundo a análise, em áreas com menos de 20% de desmatamento há uma probabilidade de 28% de redução de chuva para 100 mm ou menos durante a safra de soja e de 37% na safra de milho. Os percentuais disparam para 58% e 63%, respectivamente, quando a perda florestal é superior a 80%.

A perda exagerada de florestas já reduziu em média 12% da produtividade de grãos do país, mostra o levantamento. “A redução do desmatamento poderia, assim, evitar maiores perdas agrícolas no sul da Amazônia brasileira”, reforça a pesquisa.

Enquanto a parcela “ogro” do agronegócio não se convence de que vai sofrer cada vez mais com a crise climática, as previsões para o setor em 2024 continuam sendo revisadas. Para baixo, obviamente.

Os problemas climáticos que afetaram lavouras de soja sobretudo nas fases de plantio e desenvolvimento levaram a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) a reduzir [de novo] sua estimativa para a colheita do grão na safra 2023/24. O volume foi ajustado para 156,1 milhões de toneladas, ante as 160,3 milhões previstas em dezembro e as 158,7 milhões calculadas pela entidade para o ciclo 2022/23, informa o InfoMoney.

No Mato Grosso – estado que é o maior produtor de grãos do país –, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA) diminuiu novamente suas expectativas para as safras de soja e de milho do estado, segundo o Gigante 163. A redução de 1,5%, divulgada na 2ª feira (5/2), reflete os impactos da seca e dos preços mais baixos.

Na comparação com os recordes registrados na temporada passada, as estimativas do IMEA apontam para um total de reduções de mais de 15% para os dois produtos. Agora a safra estadual foi estimada em 38,44 milhões de toneladas, queda de 1,44% ante previsão de janeiro e de 15,17%  em relação ao ciclo passado.

 

 

ClimaInfo, 08 de fevereiro de 2024.

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