Cientista climático ganha ação contra negacionistas de extrema-direita nos EUA

Michael Mann acão antinegacionistas
Jessica Hromas/The Guardian

Michael Mann, um dos cientistas climáticos mais célebres do mundo, recebeu US$ 1 milhão como indenização em processo nos EUA contra dois negacionistas por difamação.

O cientista climático norte-americano Michael Mann obteve ganho de causa no último dia 9 em um processo de difamação contra dois escritores de extrema-direita que compararam o seu trabalho com o do ex-técnico de futebol americano Jerry Sandusky, condenado por abuso sexual contra crianças no começo dos anos 2010.

Os difamadores são Rand Simberg, ex-funcionário do grupo negacionista climático Competitive Enterprise Institute (CEI), e Mark Steyn, colaborador da revista conservadora National Review. Em 2012, os dois aproveitaram a controvérsia em torno do caso Sandusky, que ocorreu na Universidade Estadual da Pensilvânia (Penn State University), para atacar Mann, que trabalhava naquela instituição na época. De forma grosseira, eles acusaram Mann de “molestar” dados climáticos da mesma forma que Sandusky molestava crianças.

De acordo com o júri que analisou o caso, os dois agiram com “malícia, rancor, má vontade, vingança ou intenção deliberada” de prejudicar Mann. Enquanto Simberg foi condenado a pagar US$ 1 mil em danos punitivos, Steyn ficou com o maior prejuízo, já que terá que pagar US$ 1 milhão a Mann.

O Guardian explicou o contexto dos ataques. Mann foi um dos alvos do chamado “Climategate”, ocorrido em 2009, quando hackers obtiveram mensagens de e-mail de pesquisadores climáticos que discutiam questões metodológicas de algumas pesquisas.

Grupos negacionistas distorceram as informações e acusaram os cientistas de manipular dados para favorecer resultados que apontassem para a ocorrência da mudança do clima e a responsabilidade humana nesse processo. Ao final, investigações oficiais mostraram que não havia qualquer distorção nas pesquisas.

“O veredito de hoje justifica o bom nome e a reputação de Michael Mann. É também uma grande vitória para a verdade e para os cientistas de todo o mundo que dedicam as suas vidas a responder a questões científicas vitais que têm impacto na saúde humana e no planeta”, afirmou Pete Fontaine, um dos advogados de Mann no processo.

Associated Press, Axios, CNN, Financial Times, NY Times, Scientific American e Washington Post, entre outros, também repercutiram a notícia.  

Em tempo: Vale a pena ler os comentários de Bill Novelli, professor emérito da Universidade de Georgetown, na Fortune, sobre o que ele chama de “era da desconfiança fabricada”. Favorecidos pela falta de regulação das redes sociais e, mais recentemente, pelos avanços da inteligência artificial, grupos negacionistas de variados recortes, desde antivacina até “céticos” da crise climática, estão disseminando desinformação para defender os interesses de setores políticos e econômicos poderosos. Neste caos, as soluções efetivas acabam dissolvidas em discussões vazias ou remédios falsos.

 

ClimaInfo, 16  de fevereiro de 2024.

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