CEMADEN mostra cidades que mais sofreram com calor extremo em 2023 

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AndréOlmos / Wikimedia Commons

Minas Gerais foi o estado que mais “ferveu” em 2023, ano mais quente já registrado, e o Vale do Jequitinhonha foi a região mais tórrida.

“O termômetro sobe e já sabemos que o povo virá. Vemos mais casos de doença cardíaca, de queixas generalizadas. É um problema de saúde negligenciado. O calor também ajuda o mosquito [Aedes Aegypti]. Agora enfrentamos a dengue, hospitais lotados.”

O depoimento é da enfermeira Soraya Rocha, de 46 anos, moradora de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. No ano passado, ela viu aumentar o número de pacientes cada vez que o calor já normalmente grande na região se agravava, destaca O Globo. Há 22 anos atuando na rede de saúde da cidade, nesses primeiros meses de 2024 ela agora tem de lidar com a dengue, que vem ganhando força em todo o Brasil por causa do calor anormal e das chuvas extremas, como indicam análises preliminares relacionando a evolução da doença e as mudanças climáticas.

O Vale do Jequitinhonha concentra 18 das 20 cidades do país que mais aqueceram em 2023, o ano mais quente já registrado no planeta. E Turmalina foi o município com a maior elevação de temperatura: até 5,52oC acima da média das máximas diárias.

Os dados são de um levantamento inédito do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), obtido com exclusividade por O Globo. O estudo baseia uma ferramenta na qual é possível checar a quantas anda o aquecimento nas cidades brasileiras.

Com tanto calor no Vale do Jequitinhonha, não é surpresa que tenha sido Minas Gerais o estado que mais “ferveu” no ano passado, segundo o CEMADEN. Além disso, uma outra cidade mineira – Confins, na 17ª posição – está no “top 20” do calor extremo de 2023. A exceção nesse ranking é Urandi, município do centro-sul baiano, que ocupa o 14º lugar.

O calor do Vale do Jequitinhonha impressiona mesmo quem está só de passagem. O empresário e ciclista de longa distância Vinícius Freitas, de 47 anos, há três anos, faça sol ou chuva, volta da casa que possuiu na Praia do Espelho, em Trancoso, na Bahia, para Belo Horizonte, onde mora, pedalando. Traça uma rota que cruza exatos 1.000 km e sempre coloca a região no roteiro, porque tem mais beleza e história. Mas o preço a pagar é o calor. Que está cada vez mais alto.

“Em cicloviagens você não pode se dar ao luxo de parar de dia. Mas nessa região, não dá. O calor é demais. E das 11 horas ao início da tarde, não é possível suportar, até o pneu da bicicleta cheira a queimado. Não tem refresco. Quase nenhum lugar de parada, como postos de gasolina, tem ventilador. Ar-condicionado, só em sonho.”

E as altas temperaturas de 2023, seja no Vale do Jequitinhonha ou em outras áreas do país, vão se repetindo neste ano, ainda mais sendo verão. Segundo o Meteored, até o próximo final de semana Mato Grosso do Sul, oeste de São Paulo e de Minas Gerais serão os locais mais quentes. Desde o início desta semana, as temperaturas já vem se elevando em grande parte do Centro-Oeste e do Sudeste, e a perspectiva é que continue assim até a próxima semana.

Em tempo: O Complexo do Alemão, um dos maiores conjuntos de favelas do Rio de Janeiro, na Zona Norte, uma das regiões mais quentes da cidade, vai contar com um observatório climático. A intenção é monitorar o calor no local e, a partir dos dados colhidos, elaborar políticas públicas que possam ajudar a população a enfrentar esse fenômeno, cada vez mais frequente não apenas no Rio, mas em todo o mundo. Uma iniciativa da prefeitura e de organizações locais, o observatório será formado por um grupo de pesquisadores, representantes dos próprios grupos que atuam no local, como a ONG Voz das Comunidades, e pela própria população, detalha o MetSul. E o projeto servirá de piloto para ser implementado em outros pontos da cidade.

 

 

ClimaInfo, 28 de fevereiro de 2024.

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