Presidente da Petrobras anunciou que petroleira distribuiria menos dividendos para investir parte dos recursos em transição, e ações da empresa despencam após lucro quase recorde.
A Petrobras anunciou na 5ª feira (7/3) que teve um lucro líquido de R$ 124,6 bilhões em 2023. O resultado é 33,8% menor que o registrado no ano anterior, de R$ 188,3 bilhões, mas, ainda assim, ressalta a Agência Brasil, foi o segundo maior lucro líquido da história da petroleira estatal brasileira.
Um resultado menor já era esperado, já que a empresa tinha sido beneficiada no ano anterior com a disparada dos preços do petróleo no mercado internacional por causa da guerra na Ucrânia. Mas o que chateou mesmo os rentistas foi o fato da direção da Petrobras ter anunciado que distribuiria menos dividendos do que durante o governo do inominável. Assim, os papéis da petroleira despencaram no mercado financeiro na 6ª feira (8/3).
Uma semana antes, o presidente da estatal, Jean Paul Prates, disse que a Petrobras seria mais cautelosa na distribuição de dividendos para se tornar uma potência em energia renovável. Na prática, isso significava que a companhia iria dividir menos os lucros – o governo anterior chegou a distribuir mais dividendos que o resultado da companhia no período –, supostamente porque precisa desse dinheiro para investir em fontes renováveis de energia e [enfim] colocar a Petrobras na transição energética.
A fala de Prates repercutiu mal no mercado financeiro e derrubou as ações já na semana passada. E o mesmo se repetiu no dia seguinte ao resultado de 2023. A razão? Acionistas acostumados com uma Petrobras somente dos combustíveis fósseis e pouco dispostos a investir na necessária virada de chave da empresa de deixar de ser uma petroleira para se transformar numa empresa de energia – o que também é bem lucrativo, diga-se de passagem.
Não à toa, ao comentar os resultados do ano passado, Prates botou panos quentes nessa virada. Disse que a empresa fará a transição energética de forma gradual, responsável e crescente, informam Agência Brasil, Carta Capital, IstoÉ, IstoÉ Dinheiro, R7 e Correio da Bahia.
“Estamos olhando para as novas energias sem abrir mão de uma hora para outra da produção de petróleo. Vamos fazer a transição energética de forma gradual, responsável e crescente. Podemos comemorar nossos recordes de produção de petróleo e gás porque o nosso petróleo está entre os mais descarbonizados do mundo. Estamos entre as empresas que mais cresceram em produção em 2023 e com melhor índice de reposição de reservas. Isso garante o nosso futuro e também os recursos necessários para os nossos projetos de baixo carbono”, disse o executivo.
A Petrobras tem sido bastante lenta em investir efetivamente em fontes renováveis de energia. Há mais de um ano fala em “transição”, mas até agora isso só está na narrativa, não nas ações.
A fala de Prates sobre os dividendos parecia ser um sinal de mudança. Mas agora a dúvida de antes voltou. Quando a maior empresa do país vai começar a abandonar os combustíveis fósseis, deixando para trás uma energia suja e que a cada dia agrava as mudanças climáticas, e investir em fontes renováveis?
Estadão, UOL, Folha e A Tarde também repercutiram os resultados da Petrobras e a fala de Prates sobre transição energética.
ClimaInfo, 11 de março de 2024.
Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.