Área de futuro polo agrícola concentrou quase 80% do desmatamento de três estados da Amazônia

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PRODES / INPE

Pressão se intensificou na divisa entre Amazonas, Acre e Rondônia a partir de 2018, com o anúncio da criação de uma zona de desenvolvimento sustentável.

O governo federal estuda criar um polo agrícola na região conhecida como “AMACRO”, na divisa dos estados do Amazonas, Acre e Rondônia. Mas apenas a menção a essa possibilidade fez disparar o desmatamento na região, que respondeu por 76,5% do total da área devastada nesses três estados entre 2018 e 2022. É o que mostra um estudo publicado na Perspectives in Ecology and Conservation.

Na região, que abriga cerca de 1,7 milhão de moradores, está prevista a criação da zona de desenvolvimento sustentável (ZDS) Abunã-Madeira, atualmente em fase de planejamento e articulação. Mas desde 2018, quando a intenção do governo de criar a ZDS foi divulgada, a região vem enfrentando aumento das taxas de desmate, com a especulação fundiária, extração ilegal de madeira e a conversão da floresta em pastagens e terras agrícolas, detalham Folha e Agência FAPESP de Notícias.

Os cientistas usaram dados oficiais baseados em sensoriamento remoto para analisar uma área de cerca de 454 mil km², o equivalente a pouco mais que o território da Suécia. São 32 municípios na fronteira entre o sul do Amazonas, o leste do Acre e o noroeste de Rondônia, que, além de AMACRO, também vem sendo chamada de “o novo arco do desmatamento”.

“Quando estava fazendo pós-doutorado no INPE, analisava a expansão da fronteira agrícola no Cerrado. Porém, foi possível notar que havia uma dinâmica de avanço também na Amazônia, especialmente naquela região. Fomos então tentar entender o que estava acontecendo por ali e chegamos a esse cenário de especulação fundiária e pressão intensa”, explicou o pesquisador Michel Eustáquio Dantas Chaves, primeiro autor do artigo e professor da UNESP.

Ao analisar as classes fundiárias, o estudo verificou que o desmatamento foi mais frequente e crescente em terras privadas, mas avançou de forma preocupante sobre as Unidades de Conservação. Em relação às Terras Públicas – que representam grande parte da área de zoneamento, incluindo reservas extrativistas e Terras Indígenas – também houve pressão e ameaça. Em 2021, por exemplo, 64% do desmatamento ocorreu nessas áreas. Ao todo, são 86 UCs, 49 TIs e cerca de 94 mil km² de Florestas Públicas Não Destinadas.

 

 

ClimaInfo, 20 de março de 2024.

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