Associação carvoeira apela a greenwashing e muda nome para “carbono sustentável”

Associação carvoeira greenwashing
Divulgação

Entidade que defende o pior dos combustíveis fósseis no Brasil agregou “sustentável” ao seu nome, estratégia similar a chamar foz do Amazonas de “margem equatorial”.

No ano passado, o senador Marcelo Castro (MDB-PI) encontrou uma “solução” para que o IBAMA autorizasse a Petrobras a perfurar um poço de petróleo e gás fóssil no bloco FZA-M-59, na bacia da foz do Amazonas. Para o parlamentar, tudo seria diferente se a região se chamasse “Bacia do Amapá”. Pouco importa a altíssima sensibilidade ambiental da área e o imenso estrago, apontado pela própria petroleira, de um possível vazamento de óleo. Mudemos o nome, como defensores da exploração têm feito desde o ano passado, evitando falar em “Foz do Amazonas” e mencionando “Margem Equatorial”. 

O método “Marcelo Castro” de dissimular impactos ambientais e climáticos parece ter inspirado a Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM), combustível fóssil com o pior nível de emissões de gases de efeito estufa. Neste mês, a entidade passou a se chamar Associação Brasileira do Carbono Sustentável – ABCS. Isso mesmo: “carbono” e “sustentável” lado a lado.

Na explicação da entidade, o novo nome remete a uma identidade mais preocupada com os impactos que a indústria desse combustível fóssil causa ao planeta. Para ambientalistas – ou qualquer pessoa minimamente conhecedora do tema “sustentabilidade” – isso tem outro nome: greenwashing. O Instituto Arayara e o IEMA afirmam que o lobby do carvão está tentando embutir um rótulo verde sem ter alcançado resultados efetivos, detalha a Folha.

Além de suja, a energia gerada pelo carvão mineral é a mais cara de todas, lembra Juliano Araújo, do Instituto Arayara. Mais de R$ 40 bilhões serão destinados para financiar o uso dessa fonte nas próximas décadas. “O carvão mineral no Brasil representa, na geração elétrica, cerca de 1 a 1,5%. Portanto, não é determinante para a nossa segurança energética em hipótese alguma”, respondeu ao argumento usado pela ABCM para defender o combustível fóssil na matriz elétrica brasileira.

O carvão mineral já deveria ser coisa do passado, mas alguns países ainda insistem em usá-lo, a despeito da emergência climática. Mas, na Europa, que praticamente já abandonou a fonte, a ONG britânica Twentieth Century Society (TCS) está tentando preservar algumas construções gigantescas de usinas como testemunhos de uma época movida a carbono, informa a Folha.

Um exemplo é a usina de carvão West Burton A, próxima a Sheffield, na Inglaterra. Fechada no ano passado, a instalação possui oito torres de refrigeração de 90 metros de altura, o equivalente a um edifício de 30 andares. Sua demolição foi marcada para 2028.

“Esses megálitos modernistas são o Stonehenge da era do carbono. As torres de resfriamento têm uma presença diferente de qualquer outra coisa na paisagem britânica”, afirma Oli Marshall, diretor de campanhas da TCS, que tenta reverter a demolição da planta para mantê-la como um marco de um tempo que deve ficar para trás o quanto antes – mas que a ABCM insiste em não ver.

 

 

ClimaInfo, 20 de março de 2024.

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