Dois temas prioritários para o Brasil, desenvolvimento econômico sustentável e combate à fome e à pobreza, passam por quebrar resistência de países ricos e corporações.
Um dos principais nós das negociações diplomáticas para conter as mudanças climáticas é o financiamento das ações para transição energética e outras medidas de mitigação, além da adaptação. Por isso, especialistas afirmam que o tema deve ocupar um importante espaço nas discussões do G20, que está sob a presidência rotativa do Brasil, assim como da COP29, que ocorre em novembro no Azerbaijão.
O desafio foi um dos destaques do “Kick-off G20 no Brasil”, primeiro encontro com autoridades e especialistas de uma série de debates previstos pelo projeto G20 no Brasil, iniciativa do Valor, O Globo e CBN.
Já é sabido, mas não custa repetir, que o nó envolvendo quem paga essa conta vem do fato de que as consequências das mudanças climáticas afetam todos os países, mas os efeitos são desiguais. Países emergentes e pobres do Sul global devem ser os mais afetados e, ao mesmo tempo, têm menos poupança para financiar os investimentos. Além disso, os países em desenvolvimento também são os menos responsáveis pela crise climática, já que a maior parte das emissões é oriunda dos Estados Unidos e da Europa.
A dificuldade de obter e distribuir os recursos necessários permeia dois temas prioritários para o governo brasileiro na presidência do G20: o desenvolvimento econômico sustentável e o combate à fome e à pobreza. Para tentar driblar essa barreira, o Brasil propõe a criação de uma aliança global para a captação de recursos contra a fome e também para medidas climáticas em países pobres. Mas o impasse permanece: apesar de anúncios serem feitos aqui e ali, países ricos e corporações continuam resistindo em pagar sua [grande] parte na conta do financiamento.
Há quem demonstre otimismo, como a secretária de Estado e enviada especial de Política Climática Internacional do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, Jennifer Morgan. Em entrevista à Daniela Chiaretti no Valor, ela disse enxergar alguma sofisticação no debate de recursos internacionais climáticos para colocar fim a um longo impasse: os países pobres demandam dos ricos recursos públicos, e estes, por sua vez, empurram a conta ao setor privado e ao sistema financeiro. Segundo ela, as novas NDCs, que devem ser apresentadas antes da COP30 e referendadas na conferência em Belém, “são planos de investimento”.
“Sabemos que teremos de manter o rumo das finanças públicas. Uma das questões-chave deste ano é saber quem paga e quem financia a partir de fundos públicos. Mas também sabemos que precisamos de investimento maciço do setor privado. Os planos climáticos nacionais devem ser transparentes quanto às políticas que os países vão implementar para atrair mais financiamento privado que apoie sua transformação. Isso é fundamental”, destacou.
ClimaInfo, 28 de março de 2024.
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