Degelo polar está desacelerando rotação da Terra, aponta pesquisa

Degelo polar rotação da Terra
Needpix

Um novo estudo indica que o derretimento das calotas polares está reduzindo a velocidade de rotação da Terra e pode afetar a contagem do tempo.  

Além da intensificação de eventos extremos, a elevação do nível do mar e outros impactos já conhecidos, a crise climática pode causar uma mudança curiosa nos nossos relógios. Isso porque, de acordo com um estudo publicado na semana passada na revista Nature, o degelo acelerado das calotas polares está reduzindo a velocidade de rotação do planeta.

De acordo com a pesquisa, a desaceleração da rotação é tal que o próximo segundo bissexto, o mecanismo utilizado desde 1972 para reconciliar a hora oficial dos relógios atômicos com a baseada na velocidade instável de rotação da Terra, pode ser adiado em três anos, de 2026 para 2029.

A partir de dados de satélite, o estudo identificou que a intensificação da perda de gelo na Antártica e no Ártico tornou a Terra “mais achatada” e menos esférica, com a massa de água se dirigindo ao Equador. Esse fluxo de água para longe do eixo de rotação retarda a “pirueta” que o planeta faz em si mesmo.

“Derreteu gelo suficiente para mover o nível do mar o bastante para que possamos realmente ver que a taxa de rotação da Terra foi afetada”, disse Duncan Agnew, geofísico da Scripps Institution of Oceanography de La Jolla, Califórnia (EUA), autor principal do estudo.

Os segundos bissextos são motivo de dor-de-cabeça entre os metrologistas, os profissionais que estimam o tempo cronológico. Isso porque a reconciliação costuma ser problemática para os sistemas computadorizados que dominam nosso dia-a-dia e que precisam contabilizar o tempo na mesma velocidade.

Por isso, o atraso no próximo segundo bissexto apontado pelo estudo até seria bem-visto pelos metrologistas, já que é muito provável que ele seja, pela primeira vez, um segundo negativo – ou seja, ao invés da adição de um segundo a mais na contagem do tempo, haveria a redução de um segundo. 

Ainda assim, esse impacto mostra como a crise climática causada pelas atividades humanas pode ir muito além das alterações nos padrões do clima da Terra. “É impressionante, até para mim, termos feito algo que muda de forma mensurável a velocidade de rotação da Terra”, destacou Agnew à BBC

O estudo foi abordado por diversos veículos, com reportagens em ABC News, CNN, NBC News, Scientific American e Washington Post, além de na Folha e no O Globo aqui no Brasil.

 

 

ClimaInfo, 1 de abril de 2024.

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