Fiocruz detecta alto nível de contaminação por mercúrio no Povo Yanomami

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Bruno Kelly/ISA

Quase 90% dos Yanomami de 9 aldeias assediadas pelo garimpo estão contaminados pelo metal, e indígenas com níveis maiores apresentaram déficits cognitivos e danos nervosos.

Os efeito trágicos do garimpo que avançou na Terra Yanomami entre 2019 e 2022 devido à omissão do governo anterior vão além da ocupação ilegal do território e da violência contra indígenas. A contaminação de rios pelo mercúrio usado na atividade garimpeira é outro fator que causa estragos e que deve durar por muito tempo.

Uma pesquisa realizada com Yanomamis do subgrupo Ninam, de nove aldeias em Roraima, mostrou que todas as cerca de 300 pessoas que participaram do estudo estão contaminadas pelo metal tóxico. Os maiores níveis de exposição foram detectados em indígenas que vivem nas aldeias localizadas mais próximas aos garimpos ilegais de ouro.

O estudo “Impacto do mercúrio em Áreas Protegidas e Povos da Floresta na Amazônia: uma abordagem integrada saúde-ambiente” foi conduzido pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), em parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e apoio do Instituto Socioambiental (ISA). Os pesquisadores fizeram as coletas em outubro de 2022 na região do Alto Rio Mucajaí, informam Reuters, Agência Brasil, g1, Terra, O Tempo, Brasil de Fato e Folha BV.

Das 287 amostras de cabelo examinadas, 84% registraram níveis de contaminação por mercúrio acima de 2,0 μg/g (micrograma por grama). Outros 10,8% ficaram acima de 6,0 μg/g. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os níveis de mercúrio em cabelo não devem ultrapassar 1 micrograma por grama. Os pesquisadores destacam que indígenas com níveis mais elevados de mercúrio apresentaram déficits cognitivos, principalmente as crianças de até 5 anos, e danos em nervos nas extremidades, como mãos, braços, pés e pernas, com mais frequência.

As mulheres Yanomami participantes do estudo são as que mais apresentaram déficit cognitivo causado pela contaminação com o metal pesado, destaca o g1. Segundo a pesquisa, 40% das mulheres examinadas apresentaram alterações cognitivas, como alterações em reflexos profundos, sensibilidade tátil e força, enquanto os dados apontam 21% para os homens.

Além da detecção do mercúrio, a pesquisa fez exames clínicos para identificar doenças crônicas não transmissíveis, como transtornos nutricionais, anemia, diabetes e hipertensão. Ao cruzar os dados, observou-se que, nos indígenas com pressão alta, os níveis de mercúrio acima de 2,0 µg/g são mais frequentes do que naqueles com pressão arterial normal.

O estudo também analisou 47 amostras de peixes, 14 de água e sedimentos do rio Mucajaí e afluentes. Todas as amostras de peixes apresentaram algum grau de contaminação por mercúrio, sendo as maiores concentrações detectadas em peixes carnívoros, como mandubé e piranha. A análise do risco atribuível ao consumo de pescado revelou que a ingestão diária de mercúrio excede em três vezes a dose de referência preconizada pela Agência de Proteção Ambiental do governo estadunidense (U.S.EPA). 

A análise das amostras de água não revelou contaminação por mercúrio. Por outro lado, duas amostras de sedimentos apresentaram níveis de mercúrio acima do nível 1 da resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) que trata do tema.

Em entrevista à GloboNews, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, disse que a recuperação da degradação provocada pelo garimpo na Terra Yanomami “pode levar décadas”. E apesar das ações de desintrusão promovidas pelo governo desde o início de 2023, cerca de 7 mil garimpeiros ainda estão atuando na TI Yanomami.

“O garimpo é o maior mal que temos hoje na Terra Yanomami. É necessário e urgente a desintrusão, a saída desses invasores. Se o garimpo permanece, permanece também a contaminação, devastação, doenças como malária e desnutrição, e isso é o resultado dessa pesquisa, é a prova concreta!”, enfatiza o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Vitório Kopenawa.

 

 

ClimaInfo, 8 de abril de 2024.

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