Brasil tenta “recuperar terreno” e avançar na corrida pelo hidrogênio verde 

Hidrogênio Verde H2V

Países como Chile, EUA, Arábia Saudita e Austrália definiram arcabouço regulatório e criaram incentivos para setor, mas Brasil ainda patina na legislação e no conceito.

Não há debate sobre transição energética que não inclua o hidrogênio verde (H2V), gerado a partir de fontes renováveis de eletricidade, como uma importante alternativa de descarbonização. E o Brasil, por dispor de sol e vento à vontade para gerar energia renovável, tornou-se o centro das atenções para os interessados no combustível e é apontado como um potencial candidato à liderança global em sua produção.

Mas, ao lado das vantagens do país, há fortes lobbies que tentam “sujar” o hidrogênio brasileiro com eletricidade gerada por combustíveis fósseis – com uma sutil, porém determinante, mudança no nome, de “hidrogênio verde” para “hidrogênio de baixo carbono”. Assim, a regulação do combustível continua travada no Congresso, com projetos de lei distintos na Câmara dos Deputados e no Senado.

Também há a pressão por subsídios governamentais para deslanchar essa indústria. De fato, por se tratar de uma inovação tecnológica e não ter escala, a produção de H2V ainda é cara e precisa mesmo de um “empurrão” para sair do papel. Mas é preciso muito cuidado para não repetir o que vem acontecendo com as fontes eólica e solar (veja nota a seguir), nem atropelar cuidados socioambientais.

Entre a expectativa e a realidade, o Brasil está ligeiramente atrasado na corrida pelo hidrogênio verde. Países como Chile, Estados Unidos, Arábia Saudita e Austrália definiram arcabouço regulatório e criaram incentivos para o setor, lembra o Estadão. Mas ainda é possível correr atrás do prejuízo.

Há, porém, outras pedras no caminho do H2V brasileiro, como o preço, explica o Estadão. A consultoria Thymos calcula que, em todo o mundo, o valor do combustível tenha de cair 50% para ser capaz de competir com o gás fóssil – ou seja, que atinja os US$ 2 [cerca de R$ 10] por quilo de hidrogênio.

Outro empecilho é o custo dos equipamentos que fazem a eletrólise. De acordo com a Thymos, eles teriam de diminuir em 75% para o combustível ser competitivo. Como é improvável que reduções desse patamar se concretizem, o mercado deve acabar pagando um “prêmio” pelo hidrogênio verde, por se tratar de um combustível limpo.

Enquanto isso, os projetos brasileiros tentam caminhar. Segundo a Folha, o Brasil tem mais de 40 projetos de H2V em busca de certificação que os qualifique a exportar para a União Europeia – um dos mercados mais interessados no hidrogênio brasileiro – e outros países (isso se os interesses do lobby fóssil não atrapalharem os planos). As tratativas são feitas pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que coordena, em nome do Brasil, um grupo de 11 países que estão definindo essas regras.

A maior parte das iniciativas brasileiras está no Ceará, próximas ao porto de Pecém. A área é considerada estratégica por conta do terminal que permitiria a exportação em trajeto mais curto do H2V à Europa e pela abundância de fontes limpas de energia, como eólica e solar. O mais recente anúncio no Ceará ocorreu na 3ª feira (9/4), quando o governador do estado, Elmano de Freitas (PT), oficializou um pré-contrato com o grupo francês Voltalia para a instalação de uma unidade de produção de hidrogênio e amônia verdes em Pecém, informam O Povo e epbr.

O foco na exportação preocupa a indústria brasileira. Para Carlos Faria, diretor-presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (ANACE), o custo da energia no país foi um dos fatores que aceleraram a desindustrialização nacional. Assim, a prioridade para o hidrogênio verde a ser produzido aqui deveria ser o parque brasileiro.

“A energia limpa e competitiva que o Brasil pode produzir tem de ser destinada justamente à recuperação da nossa produção, agora num outro patamar. Isso passa, inclusive, pelo uso desses recursos como fatores de atratividade de novos investimentos industriais, e não simplesmente para abastecerem fábricas em outros países”, afirmou, em artigo no Correio Braziliense.

 

ClimaInfo, 11 de abril de 2024.

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