Petrobras anuncia descoberta de petróleo entre CE e RN e pressiona por avanço na Margem Equatorial

aquecimento global petróleo foz do Amazonas
Coordenação-Geral de Observação da Terra/INPE

Petroleira vai a mais de 2 mil metros para encontrar o material, mas não dá informações detalhadas e usa momento para fazer propaganda pró-combustíveis fósseis.

A Petrobras anunciou que descobriu uma acumulação de petróleo em águas ultraprofundas da Bacia Potiguar. Assim como a foz do Amazonas, a Bacia Potiguar integra a Margem Equatorial. A região, de altíssima sensibilidade ambiental, vai do litoral do Rio Grande do Norte ao Amapá e vem sendo apontada pela estatal e por defensores da exploração de combustíveis fósseis como a “nova fronteira” exploratória do Brasil – embora sem qualquer resultado efetivo sobre tal potencial.

O poço Anhangá [1-BRSA-1390-RNS] foi perfurado na concessão POT-M-762_R15, informou a petroleira em comunicado ao mercado. Anhangá está situado próximo à fronteira entre os estados do Ceará e Rio Grande do Norte, a cerca de 190 km de Fortaleza e 250 km de Natal, em profundidade d’água de 2.196 metros. A Petrobras, porém, não deu informações sobre o possível tamanho do reservatório ou tipo de petróleo.

O que chama atenção no comunicado da estatal é a apelação de quem, na verdade, quer perfurar um poço no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas, apesar de todo o risco ambiental associado à exploração de combustíveis fósseis nessa bacia. Assim, o texto diz que “o sucesso exploratório na Guiana e no Suriname corroboram a importância de a Petrobras continuar sua campanha nas Bacias da Margem Equatorial brasileira, conforme previsto no seu Plano Estratégico 2024-2028”. É o argumento vazio que todos os defensores da atividade suja e arriscada têm usado.

E não para por aí. Além das reservas de petróleo da Guiana – que estão sendo exploradas pela Exxon, exportadas para a Europa e causam dúvida entre os guianenses sobre as “riquezas” prometidas a partir delas –, o comunicado apela para a “ameaça” do Brasil não ter petróleo suficiente a partir de 2030. Ignora as projeções da Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em Inglês), de que o pico da demanda por combustíveis fósseis deve ocorrer até o referido ano, caindo progressivamente em seguida.

Anhangá é o segundo poço exploratório perfurado pela Petrobras na Bacia Potiguar nos últimos meses. Em janeiro, a Petrobras concluiu a perfuração de Pitu Oeste. A companhia comunicou à ANP que identificou presença de hidrocarboneto, mas o resultado na época foi inconclusivo quanto à viabilidade econômica. O poço integra a concessão BM-POT-17 e está localizado em águas profundas a 52 km da costa do Rio Grande do Norte.

O anúncio da Petrobras foi noticiado por Estadão, Folha, Forbes, R7, g1, CNN, Metrópoles, Poder 360, Correio Braziliense, Agência Brasil, O Tempo, A Tarde, Jornal do Comércio de Pernambuco e Diário do Nordeste.

Em tempo: Continuam as contradições do governador do Pará, Helder Barbalho, sobre a exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas. Na Folha, Barbalho minimizou as declarações do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sobre explorar petróleo até o Brasil se tornar um país desenvolvido e disse que “certamente a ministra do Meio Ambiente [Marina Silva] terá outra fala”. E também disse que “a Petrobras erra quando não apresenta uma participação ativa e de liderança na construção das soluções para esse novo olhar sobre a Amazônia”. Já no Estadão, o governador paraense voltou a usar a estratégia narrativa criada pela Petrobras de trocar “exploração” por “pesquisa” para defender o poço que a estatal quer perfurar no bloco FZA-M-59, na foz. “O Brasil deve fazer com que haja, em respeito às regras ambientais, as exigências para que a Petrobras possa apresentar todo o seu plano de pesquisa inicialmente. Nós estamos falando neste primeiro momento da pesquisa, de que a pesquisa é capaz de ser feita sem que isto traga danos ou riscos ambientais. É possível isto? Em sendo possível isto, não se deve agir proibindo esta atividade, porque o Brasil não é capaz de ser independente desta matriz energética neste momento”, defendeu.

 

ClimaInfo, 11 de abril de 2024.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.