Petrobras anuncia descoberta de petróleo entre CE e RN e pressiona por avanço na Margem Equatorial

10 de abril de 2024
aquecimento global petróleo foz do Amazonas
Coordenação-Geral de Observação da Terra/INPE

Petroleira vai a mais de 2 mil metros para encontrar o material, mas não dá informações detalhadas e usa momento para fazer propaganda pró-combustíveis fósseis.

A Petrobras anunciou que descobriu uma acumulação de petróleo em águas ultraprofundas da Bacia Potiguar. Assim como a foz do Amazonas, a Bacia Potiguar integra a Margem Equatorial. A região, de altíssima sensibilidade ambiental, vai do litoral do Rio Grande do Norte ao Amapá e vem sendo apontada pela estatal e por defensores da exploração de combustíveis fósseis como a “nova fronteira” exploratória do Brasil – embora sem qualquer resultado efetivo sobre tal potencial.

O poço Anhangá [1-BRSA-1390-RNS] foi perfurado na concessão POT-M-762_R15, informou a petroleira em comunicado ao mercado. Anhangá está situado próximo à fronteira entre os estados do Ceará e Rio Grande do Norte, a cerca de 190 km de Fortaleza e 250 km de Natal, em profundidade d’água de 2.196 metros. A Petrobras, porém, não deu informações sobre o possível tamanho do reservatório ou tipo de petróleo.

O que chama atenção no comunicado da estatal é a apelação de quem, na verdade, quer perfurar um poço no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas, apesar de todo o risco ambiental associado à exploração de combustíveis fósseis nessa bacia. Assim, o texto diz que “o sucesso exploratório na Guiana e no Suriname corroboram a importância de a Petrobras continuar sua campanha nas Bacias da Margem Equatorial brasileira, conforme previsto no seu Plano Estratégico 2024-2028”. É o argumento vazio que todos os defensores da atividade suja e arriscada têm usado.

E não para por aí. Além das reservas de petróleo da Guiana – que estão sendo exploradas pela Exxon, exportadas para a Europa e causam dúvida entre os guianenses sobre as “riquezas” prometidas a partir delas –, o comunicado apela para a “ameaça” do Brasil não ter petróleo suficiente a partir de 2030. Ignora as projeções da Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em Inglês), de que o pico da demanda por combustíveis fósseis deve ocorrer até o referido ano, caindo progressivamente em seguida.

Anhangá é o segundo poço exploratório perfurado pela Petrobras na Bacia Potiguar nos últimos meses. Em janeiro, a Petrobras concluiu a perfuração de Pitu Oeste. A companhia comunicou à ANP que identificou presença de hidrocarboneto, mas o resultado na época foi inconclusivo quanto à viabilidade econômica. O poço integra a concessão BM-POT-17 e está localizado em águas profundas a 52 km da costa do Rio Grande do Norte.

O anúncio da Petrobras foi noticiado por Estadão, Folha, Forbes, R7, g1, CNN, Metrópoles, Poder 360, Correio Braziliense, Agência Brasil, O Tempo, A Tarde, Jornal do Comércio de Pernambuco e Diário do Nordeste.

Em tempo: Continuam as contradições do governador do Pará, Helder Barbalho, sobre a exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas. Na Folha, Barbalho minimizou as declarações do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sobre explorar petróleo até o Brasil se tornar um país desenvolvido e disse que “certamente a ministra do Meio Ambiente [Marina Silva] terá outra fala”. E também disse que “a Petrobras erra quando não apresenta uma participação ativa e de liderança na construção das soluções para esse novo olhar sobre a Amazônia”. Já no Estadão, o governador paraense voltou a usar a estratégia narrativa criada pela Petrobras de trocar “exploração” por “pesquisa” para defender o poço que a estatal quer perfurar no bloco FZA-M-59, na foz. “O Brasil deve fazer com que haja, em respeito às regras ambientais, as exigências para que a Petrobras possa apresentar todo o seu plano de pesquisa inicialmente. Nós estamos falando neste primeiro momento da pesquisa, de que a pesquisa é capaz de ser feita sem que isto traga danos ou riscos ambientais. É possível isto? Em sendo possível isto, não se deve agir proibindo esta atividade, porque o Brasil não é capaz de ser independente desta matriz energética neste momento”, defendeu.

 

ClimaInfo, 11 de abril de 2024.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar