Crise climática vai encolher produção e aumentar emissões no Cerrado

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EMBRAPA

A “nova fronteira agrícola” do Brasil tem sofrido com desmate sistemático e uso exploratório do solo, o que agrava as mudanças climáticas e atinge produtividade.

Não é de hoje que estudos mostram a “lei do retorno climático” sobre o agronegócio. Boa parte do setor ainda adota práticas do século passado, como o desmatamento de vegetação nativa e o esgotamento do solo por mau uso, o que agrava as mudanças climáticas e se reverte contra a própria atividade – o que especialistas chamam de agrossuicídio.

O Cerrado, a “nova fronteira agrícola” do país, que abriga agricultura e pecuária extensivas e continua sendo desmatado sem dó nem piedade, é o melhor exemplo desse retorno. Os eventos climáticos extremos de 2023 e início de 2024 resultantes da crise climática vão fazer com que produtores de soja e milho registrem o maior prejuízo dos últimos 25 anos na safra atual, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA). Mesmo com uma produtividade de milho considerada boa em regiões como Sorriso (MT), os preços praticados não serão suficientes para cobrir os custos totais da safra de 2023/2024, informa o Gigante 163.

Mas os prejuízos não se restringem ao momento atual. A alta das temperaturas médias no Cerrado desenha um cenário de menor produção de grãos e maior emissão de óxido nitroso, gás que reforça o efeito estufa e a crise climática global. A projeção para até 2070 é de um estudo publicado na Agriculture, Ecosystems & Environment.

O experimento começou em 1995 e foi conduzido por pesquisadores das unidades de Meio Ambiente e de Cerrado da EMBRAPA e da UnB. Os cientistas avaliaram monoculturas como milho, soja, sorgo e feijão guandu, detalha ((o))eco. A tendência de subida das temperaturas diárias entre 1,77°C e 2,21°C “pode provocar um impacto grave no setor agrícola”, alerta o pesquisador da EMBRAPA Cerrados, Fernando Macena.

O estudo aponta também meios para reduzir as perdas do agronegócio no “novo anormal”, tais como a redução no uso de fertilizantes nitrogenados e a ampliação do plantio direto, que prejudica menos os solos e as águas, emite menos óxido nitroso e assegura maior produtividade na crise climática em relação ao modelo convencional. Embora não conste como indicação da pesquisa, é fato que também é necessário conter o desmate do bioma.

O desmatamento e a agropecuária são o principal calcanhar-de-Aquiles do Brasil para reduzir suas emissões, reconheceu o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, no evento Rumos 2024, do Valor. Em ambos, o Cerrado é atualmente a maior preocupação do governo.

Em tempo: Um único pecuarista destruiu 80 mil hectares no Pantanal matogrossense – área equivalente à da cidade de Campinas, em São Paulo. A denúncia, feita pelo Fantástico, mostra que Claudecy Oliveira Lemes, proprietário de 11 fazendas em Barão de Melgaço (MT), gastou R$ 25 milhões com herbicidas ao longo de três anos – o mesmo período no qual ele deveria estar cumprindo um acordo para recuperar a vegetação em áreas destruídas assinado com o Ministério Público.

 

ClimaInfo, 16 de abril de 2024.

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