Trocar dívida por natureza pode gerar US$ 100 bi para combate à crise climática

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Patrick Hendry / Unsplash

Estimativa se baseia na possibilidade de trocas de débitos em muitos dos 49 países menos desenvolvidos e considerados os mais vulneráveis a crises de dívida.

As trocas de dívida por clima e natureza (debt-for-nature swaps, no original em Inglês) são vistas como uma ferramenta importante, mas pouco utilizada, para abordar três problemas principais enfrentados por países pobres: dívidas paralisantes, impactos das mudanças climáticas e perda de biodiversidade. E um relatório do Institute for Environment and Development (IIED) mostra que mais de US$ 100 bilhões em dívidas dessas nações poderiam ser liberados para serem aplicados na restauração da natureza e em adaptação climática.

A análise do IIED foi lançada na 2ª feira (15/4), quando começou o Spring Meeting – encontro anual realizado em Washington pelo Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre temas relacionados a economia e desenvolvimento. O FMI e o Banco Mundial, em cujos números a análise se baseia, estimam que os países em foco devem coletivamente US$ 431 bilhões, principalmente aos governos dos países mais ricos, ao próprio FMI e aos fundos de pensões e de hedge. Assim, o documento pede às instituições financeiras internacionais e ao G20 que promovam as trocas de dívida como uma ferramenta importante para enfrentar a crise da dívida nos países mais vulneráveis às mudanças climáticas.

O instituto baseou a estimativa na possibilidade de trocas de dívida em muitos dos 49 países menos desenvolvidos considerados os mais vulneráveis a crises de dívida, explica a Reuters. Belize, Equador, Barbados, Gabão e Cabo Verde fizeram essas trocas nos últimos anos, e Laura Kelly, diretora do grupo de pesquisa de mercados sustentáveis ​​do IIED, disse que muitas nações sobreendividadas e também muitas vezes mais ameaçadas pelas mudanças climáticas estavam olhando para eles.

O interesse não se dá em vão. De acordo com outro relatório, este do projeto Debt Relief for Green and Inclusive Recovery (DRGR), os países emergentes pagarão um recorde de US$ 400 bilhões para servir à dívida externa este ano, e 47 deles não podem gastar o dinheiro necessário em adaptação climática e desenvolvimento sustentável sem correr o risco de inadimplência nos próximos cinco anos, informa a Reuters. Outros 19 países em desenvolvimento não têm liquidez para atender às metas de gastos sem ajuda, embora não alcancem os limites de inadimplência.

O documento apela a uma revisão da arquitetura financeira global, juntamente com o perdão da dívida para os países em maior risco e um aumento no financiamento acessível e em melhorias de crédito. “Precisamos mobilizar mais capital e reduzir o custo do capital para os países se quisermos fazer algo para enfrentar isso”, disse disse Kevin Gallagher, diretor do Departamento de Desenvolvimento da Universidade de Boston, uma das integrantes do projeto.

Em tempo: Um relatório com oito frentes específicas para alavancar as finanças climáticas nos países do G20 foi lançado por quatro instituições para tentar auxiliar o Brasil, que preside o grupo neste ano, a destravar e acelerar os esforços e investimentos para combater as mudanças climáticas. O documento “Strengthening Climate Finance Delivery: The Path from Brazil’s G20 Presidency to COP30” foi produzido pelo Instituto do Clima e Sociedade (iCS), da Climate Policy Initiative (CPI), do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e o think tank dinamarquês CONCITO, informa o Valor. Entre as principais oportunidades identificadas para fortalecer a entrega de financiamento climático durante a presidência do Brasil no G20 estão a criação de plataformas nacionais colaborativas; a partilha de riscos e a utilização de instrumentos de gestão de riscos; a tributação internacional; e avançar nas discussões sobre o Novo Objetivo Quantificado Coletivo sobre Financiamento Climático (NCQG) na COP29.

 

ClimaInfo, 16 de abril de 2024.

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