Custo médio apontado pelo tribunal considera simulações da EPE, mas outros cenários mostram despesas que chegam a R$ 77 bilhões e serão pagas pelos consumidores.
A termonuclear Angra 3 voltou ao radar do governo federal. Mesmo diante dos riscos envolvidos na geração elétrica nuclear – comprovado pelos graves acidentes nas usinas de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, e Fukushima, no Japão, em 2011 –, a estatal Eletronuclear lançou uma consulta pública sobre o projeto de conclusão da planta. Além do perigo, Angra 3 pode acabar doendo no bolso do consumidor brasileiro. E num país com fartura de fontes energéticas renováveis, seguras e bem mais baratas, como a solar e a eólica.
Na semana passada, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que o governo considere o impacto da contratação de Angra 3 na conta de luz. A corte apontou um aumento médio de 2,9% nas tarifas com a operação da usina, mencionando estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) para basear seu cálculo, informam g1 e Canal Energia.
Segundo o relator do processo, ministro Jorge Oliveira, as simulações da EPE apontaram custo médio de R$ 43 bilhões. Mas outros cenários mostram que as despesas com a contratação da energia de Angra 3 podem chegar a R$ 77 bilhões. Uma conta que, obviamente, será paga pelos consumidores do mercado cativo de eletricidade.
“Independentemente de potenciais externalidades positivas do empreendimento para a política nuclear nacional, os encargos aos consumidores serão muito mais altos em caso de continuidade da construção de Angra 3 do que de abandono do projeto”, disse Oliveira.
Como era de se esperar, a Eletronuclear questionou a análise do TCU, relatam Valor, epbr e Petronotícias. Segundo a estatal, o valor usado pela corte se baseia em uma apresentação preliminar do BNDES para o Ministério de Minas e Energia (MME), e não no estudo final sobre a viabilidade econômica de Angra 3, que ainda está em andamento. O que significa, em tese, que tal número pode ser menor – ou maior.
Também interessada na retomada das obras de Angra 3, a Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN) disse que o governo é capaz de adotar medidas para que o custo da energia da usina nuclear fique abaixo de R$ 500 por megawatt-hora (MWh), informa a epbr. A título de comparação, o leilão de energia nova A-4 realizado pelo governo em 2022 – para entrega de eletricidade a partir de 2026 – contratou usinas eólicas com preço médio de R$ 179,30 por MWh, e plantas solares fotovoltaicas com preço médio de R$ 178,24/MWh.
ClimaInfo, 16 de abril de 2024.
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