Prates diz que explorar foz do Amazonas é “decisão de Estado”, mas repete alarmismo com ameaça de importação de petróleo

24 de abril de 2024
Prates petróleo foz Amazonas
Reprodução YouTube

Presidente da Petrobras admite que explorar combustíveis fósseis é uma escolha de Estado, mas alardeia fato que reservas brasileiras garantem produção “só” por 13 anos.

A Guiana não sai da cabeça do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. As reservas de combustíveis fósseis do país vizinho são sempre citadas pelo executivo para tentar justificar a exploração de petróleo e gás na margem equatorial, em particular na foz do Amazonas. Não bastasse isso, Prates agora faz um discurso apocalíptico de que o Brasil vai voltar a importar petróleo se não explorar combustíveis fósseis na região de alta sensibilidade ambiental. Mas os números e as tendências mostram que não é nada disso.

No “Seminário Brasil Hoje”, em São Paulo, na 2ª feira (22/2), o presidente da estatal disse que a decisão sobre explorar petróleo na margem equatorial é do Estado brasileiro, como já tinha dito em outras ocasiões. Mas, ao dizer que “respeita muito” a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que o debate agora “não se trata somente” da licença ambiental para a empresa perfurar um poço de petróleo no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas, que ainda está sob análise do IBAMA, informam Valor, O Globo, Metrópoles e CNN.

Mas Prates não para por aí em sua empreitada para que o Brasil explore combustíveis fósseis “até a última gota”. Ao dizer que as reservas provadas brasileiras de petróleo garantem o atual volume de produção “só” por 13 anos – no ano passado, o país atingiu o maior volume de reservas provadas desde 2015, mostrou a ANP –, o presidente da Petrobras ainda faz um “ultimato”, destacam Estadão, IstoÉ Dinheiro, Poder 360 e Exame: “Ou vamos para a margem equatorial ou voltamos a importar combustíveis de outros países”.

“A licença que está em discussão na margem equatorial [especificamente a do FZA-M-59, na foz do Amazonas] é a de exploração perfuratória, portanto não diz respeito à etapa de produção. Depois de dois anos, vamos descobrir sobre o potencial comercial, depois vamos construir a plataforma. São, pelo menos, seis a oito anos que temos de levar para começar a produção na margem equatorial [leia-se foz do Amazonas]”, disse Prates.

Como de costume, o presidente da petroleira disse ainda que o Brasil está “atrasado na exploração da margem equatorial”, se comparado com os demais países, como a Guiana. E chegou a afirmar que os cenários atuais indicam a permanência dos hidrocarbonetos na economia por mais 40 a 50 anos.

A “cereja do bolo”, porém, é a mesma que Prates e também o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, têm repetido sempre que podem: que explorar combustíveis fósseis na foz do Amazonas é necessário para “financiar a transição energética”, segundo o Estadão. Além de ser falacioso, basta lembrar que o Estado brasileiro hoje subsidia combustíveis fósseis. Basta transferir esses recursos para as fontes renováveis de energia e a transição caminhará sem precisar de mais uma gota de óleo.

Diante disso, fica evidente que o jogo-dos-erros-fósseis de Prates ignora projeções anteriores da Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês) de que a demanda por combustíveis fósseis vai atingir seu pico até 2030 – quando, segundo seus próprios cálculos, a Petrobras iniciaria a produção na foz do Amazonas, se encontrar reservas lá – e depois cair.  Uma prova disso é o avanço dos veículos elétricos observado pela IEA (Ver nota abaixo).

Além disso, o Brasil hoje é exportador líquido de petróleo. Ou seja, nossa atual produção cobre com folga o atual consumo. Se considerarmos que, além dos carros elétricos, as montadoras brasileiras estão investindo em produzir veículos híbridos flex e elétricos puros, a tendência de queda do consumo de petróleo se confirma. Sem falar nos projetos de eletrificação de ônibus urbanos, que também joga a demanda para baixo.

O apelo de Prates pela margem/foz do Amazonas também ignora que a Petrobras e outras petroleiras ainda estão explorando as bacias de Santos e Campos, que abrigam o pré-sal. Há várias atividades nessas regiões que devem agregar mais reservas. Sem falar nos avanços tecnológicos da própria cadeia petrolífera que vêm aumentando o fator de recuperação de campos de petróleo – ou seja, a quantidade de combustíveis fósseis extraídos dessas áreas.

 

ClimaInfo, 24 de abril de 2024.

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