Indústria da carne e laticínios segue Big Oil para desinformar sobre seus impactos climáticos

24 de julho de 2024
Indústria da carne e laticínios segue Big Oil para desinformar sobre seus impactos climáticos
PxHere

Relatório expõe como empresas de carne bovina e laticínio empregam táticas aplicadas pelo setor petrolífero há décadas para manter operações danosas ao equilíbrio do clima.

No mundo da desinformação climática, nada se cria – tudo se copia. Da mesma forma que o Big Oil pegou emprestado táticas de desinformação criadas pela indústria dos cigarros para confundir o público, no caso sobre os efeitos dos combustíveis fósseis no clima global, o setor de carne bovina e laticínios está repetindo esse movimento para escapar de cobranças e pressão sobre os impactos climáticos de seus produtos.

Essa é a conclusão de um relatório divulgado na semana passada pela Changing Markets Foundation. Batizado de “Os Novos Mercadores da Dúvida”, o trabalho sintetiza a maior investigação corporativa sobre as mensagens e a estratégia de comunicação climática de 22 das maiores empresas globais de carne bovina e laticínios. O documento revela como o setor vem disseminando informações enganosas sobre emissões de metano e promovendo “soluções climáticas” inúteis.

O relatório analisou empresas como JBS, Nestlé, Tyson Foods, Fonterra e Danish Crown. Entre os exemplos de ação de desinformação do setor destacados pelo documento, estão a pressão feita sobre o Parlamento Europeu para enfraquecer o Acordo Verde da União Europeia e o trabalho para barrar a proposta de imposto sobre emissões agrícolas na Nova Zelândia.

O greenwashing também é uma arma bastante utilizada pelo setor de carne bovina e laticínios. De acordo com o documento, as empresas destinam recursos paupérrimos para a implementação de ações de descarbonização e carbono neutro, mas gastam bilhões de dólares em publicidade, voltada especialmente aos jovens, para se mostrarem como “empresas verdes”.

Por falar em net-zero, o relatório destaca como os planos corporativos apresentados pelas gigantes dessa indústria são insuficientes para reduzir a pegada de carbono e de metano do setor. Isso porque se concentram basicamente na redução de emissões de Escopos 1 (diretas) e 2 (consumo de energia elétrica), mas ignoram Escopo 3 (cadeia de valor), que sozinha representa 90% das emissões dessas empresas.

“Este relatório expõe a hipocrisia flagrante do Big Meat & Dairy, que alega estar comprometido com soluções climáticas enquanto emprega táticas enganosas para distrair, atrasar e descarrilar ações significativas. Essas táticas refletem as do Big Oil e do Big Tobacco, permitindo que continuem suas práticas prejudiciais sem controle”, argumentou Nusa Urbancic, CEO da Changing Markets Foundation.

Bloomberg e ((o)) eco repercutiram o estudo.

Em tempo: Por falar em desinformação, a Vox publicou uma reportagem que mostra como a indústria da carne se aproveita de suas conexões financeiras com algumas das principais universidades dos Estados Unidos para pautar pesquisas acadêmicas e construir argumentos para defender seu modelo de negócio e promover seus interesses.

“A indústria de agricultura animal está envolvida em profusos esforços multimilionários com universidades para obstruir políticas desfavoráveis, bem como influenciar a política e o discurso sobre mudanças climáticas”, afirmaram as pesquisadoras Viveca Morris e Jennifer Jacquet, autoras de um estudo recente que explorou essas conexões do Big Meat com a academia.

 

 

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ClimaInfo, 25 de julho de 2024.

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