COP29: Azerbaijão ignora eliminação dos combustíveis fósseis na pauta da conferência

presidente Azerbaijão
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Anfitrião da COP29 e berço da indústria petroleira, o Azerbaijão deixa o fim dos combustíveis fósseis em uma posição secundária na agenda de negociação climática. 

Prioridade na COP28 de Dubai, no ano passado, o fim da queima de combustíveis fósseis não figura entre os principais itens da agenda de negociação proposta pelo Azerbaijão na COP29 de Baku. Com uma economia dependente da produção de energia fóssil, o governo quer tirar os holofotes da questão para evitar maiores constrangimentos ao país.

Como o Financial Times destacou, a decisão do Azerbaijão contraria aquilo que foi discutido pelos países na última COP. Em sua declaração final, eles se comprometeram a “se distanciar dos combustíveis fósseis”, um termo vago e frágil, mas que não deixa de ser a primeira sinalização nesse sentido em toda a história das negociações climáticas.

No lugar dos combustíveis fósseis, a presidência azeri da COP29 elencou entre suas prioridades políticas a busca de novos acordos para ampliar o armazenamento de energia em baterias, expandir as redes elétricas e reduzir as emissões de metano provenientes de resíduos orgânicos. Outra prioridade é a conclusão das negociações em torno das novas metas e arquitetura para o financiamento climático internacional pós-2025, que seguem travadas e sem sinal claro de solução.

A omissão do Azerbaijão com a questão dos combustíveis fósseis deve irritar os países mais vulneráveis, que reivindicam ações imediatas das economias mais ricas e industrializadas para reduzir suas emissões através do corte no consumo de energia suja. Essa timidez também atrapalha o esforço de ativistas e especialistas para pressionar os países em prol de mais ambição nas novas metas climáticas sob o próximo ciclo de NDCs.

Além de ignorar a questão dos combustíveis fósseis, o Azerbaijão também está sendo criticado por sua “hipocrisia” em torno de sua proposta de “trégua global” durante a COP29. A postura de “pacificador” de Baku não combina com o que acontece dentro do próprio país, com um péssimo histórico de Direitos Humanos e que acaba de expulsar mais de 100 mil armênios da região de Nagorno-Karabakh, lembra a Folha.

“Se o presidente [Ilham] Aliyev [do Azerbaijão] realmente quer dar o exemplo, em vez de pedir que os outros ajam, ele deveria se comprometer a descarbonizar sua economia dos combustíveis fósseis e liberar os mais de 300 presos políticos que estão detidos antes do início da COP29”, cobrou Paul Polman, ex-CEO da Unilever e agora ativista climático, no Guardian

A Folha traduziu a reportagem do Financial Times.

 

ClimaInfo, 19 setembro de 2024.

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