Indígenas dizem que estiagem deste ano é ainda mais severa, por ter sido antecipada em um mês, e botos voltam a morrer no lago Tefé.
“Quem paga?” A pergunta foi escrita originalmente em inglês por ativistas do Greenpeace num banco de areia que surgiu no meio do rio Solimões. Assim como no ano passado, o nível de um dos principais cursos d’água da Amazônia vem caindo rapidamente devido a mais uma seca extrema. Este ano, porém, a situação parece ser ainda mais grave do que a de 2023.
O protesto do Greenpeace refere-se aos danos causados à Amazônia pelas mudanças climáticas, informa a Reuters, em matéria traduzida pelo g1, causadas principalmente pela queima de combustíveis fósseis. As petroleiras continuam livres de qualquer punição e mantêm seus resultados financeiros intactos de qualquer cobrança pela crise climática. Já as comunidades amazônidas e a fauna e flora da região pagam um preço altíssimo e têm sua sobrevivência ameaçada.
É o caso dos moradores da Terra Indígena Porto Praia de Baixo, na região de Tefé (AM). Nas secas extremas de 2023 e 2024, o destino das mais de cem famílias do território foi radicalmente alterado. O trecho do Solimões em frente a Porto Praia virou deserto outra vez, destaca a Folha, que esteve na região em outubro do ano passado e retornou neste mês.
Indígenas dizem que a crise neste ano é ainda mais severa, por ter sido antecipada em um mês e por obrigar a ancoragem dos barcos pequenos a uma distância ainda maior do portinho da aldeia – 3 km, ante 2 km em 2023. Com o desaparecimento do Solimões, indígenas Kokamas, Tikunas e Mayorunas venderam o material de pesca.
Além das comunidades atingidas pela estiagem extrema, Tefé ficou marcada no ano passado pela mortandade de mais de 200 botos no lago homônimo. E a carcaça de um filhote de boto vista semana passada na margem arenosa, exposta pelo recuo das águas, acendeu o alerta para a possibilidade de uma nova tragédia ambiental.
“Temos encontrado vários animais mortos. Na semana passada, tivemos uma média de um por dia”, contou à Folha Miriam Marmontel, chefe do projeto de pesquisa em mamíferos aquáticos amazônicos no Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
Pesquisadores mediram a temperatura da água, que vem subindo à medida que o nível do lago diminui. Mas ainda não estão associando as mortes a esse fenômeno diretamente, mas sim ao aumento da proximidade humana, causada justamente por causa da seca extrema, acrescentou Miriam.
Em tempo 1: O Rio Madeira, em Rondônia, chegou na madrugada de 2ª feira (23/9) a um nível nunca observado na história em Porto Velho, capital do estado: 25 centímetros. Locais onde antes os ribeirinhos passavam de barco para pescar foram substituídos por bancos de areia. Além disso, o horizonte onde antes era possível ver o nascer e o pôr do sol foi encoberto por fumaça das queimadas na Amazônia, relata o g1.
Em tempo 2: Com 1,23 metro alcançado no sábado (21/9), o rio Acre chegou à menor marca registrada nos últimos 53 anos na capital acreana, Rio Branco, estabelecendo a seca de 2024 como a maior da história do estado, informa o g1. A última chuva significativa registrada pela Defesa Civil municipal foi dia 6 de setembro, quando choveu pouco mais de 10 milímetros. O rio Acre está abaixo de 2 metros há cerca de 100 dias.
Em tempo 3: Manifestantes foram às ruas de São Paulo no domingo (22/9) para denunciar a crise climática e cobrar a atuação de autoridades políticas para a mitigação dos efeitos sentidos pela população. Na capital paulista, a Marcha por Justiça Climática foi realizada na Avenida Paulista. Atos também foram registrados em outras cidades do estado, como Piracaia, Campinas, Bauru, Ribeirão Preto, Limeira, Sorocaba, Piracicaba e São Roque, informa o Brasil de Fato. No Rio de Janeiro, a marcha ocorreu na 6ª feira (20/9), relata a Agência Brasil.
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ClimaInfo, 24 de setembro de 2024.
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