Clima nas eleições: crise climática não é prioridade de candidatos à prefeitura em capitais

A despeito da preocupação crescente do eleitorado brasileiro com os impactos das mudanças climáticas, candidatos às prefeituras ignoram a questão em seus programas de governo.
30 de setembro de 2024
voto climático
Pixabay

A procissão de eventos climáticos extremos vivida pelos brasileiros de Norte a Sul nos últimos anos foge ao radar dos prefeituráveis de algumas das maiores capitais do país. Mesmo com a preocupação crescente do eleitorado com os efeitos das mudanças climáticas em suas comunidades, os candidatos ao Executivo municipal não trazem a questão como uma prioridade em seus planos de governo.

O Globo destacou os resultados de uma análise do Greenpeace Brasil e do Instituto Clima de Eleição sobre os planos de governo registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelos quatro principais candidatos às prefeituras de Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). Apesar de um aumento do interesse dos políticos no tema climático, a análise mostrou que as propostas apresentadas continuam vagas e genéricas.

Dos 20 planos analisados, apenas três efetivamente encaram a questão climática como prioridades políticas. Essa trinca, aliás, vem de cidades que sofreram com desastres climáticos nos últimos anos: Porto Alegre, Manaus e Recife. Os demais planos de governo até abordam o clima, mas sem oferecer medidas de ação e resposta aos desafios impostos pela crise climática nas cidades brasileiras.

Em Manaus, por exemplo, apenas um dos quatro planos analisados cita a questão das queimadas, um problema crônico do município e da região amazônica. Já no Rio de Janeiro, alguns candidatos propõem inclusive medidas que contrariam a Justiça Climática, como a remoção de pessoas de “locais mais vulneráveis”, sem detalhes sobre como isso seria feito. São Paulo, por sua vez, tem os dois candidatos que ofereceram os melhores planos na questão climática nas capitais analisadas – Guilherme Boulos (PSOL) e Tábata Amaral (PSB).

O desinteresse da maior parte dos candidatos às prefeituras com a questão climática contrasta com a preocupação crescente do eleitorado brasileiro com o tema. A pesquisa recente do Datafolha mostrou que a maioria da população em Belo Horizonte (76%), São Paulo (71%), Rio de Janeiro (66%) e Recife (59%) enxerga nas mudanças do clima um risco imediato em seus municípios.

O Datafolha também revelou que pelo menos 40% da população das capitais de Minas Gerais e São Paulo relataram ter sua saúde muito afetada pela fumaça das queimadas que se espalhou pelo país nos últimos meses. Mais da metade (56%) dos moradores de Belo Horizonte disse ter sido muito afetada pelo fenômeno em toda a vida, enquanto em SP esse índice é de 47%.

Ainda sobre as eleições, o Climômetro, iniciativa da Agência Pública com pesquisadores de cinco universidades brasileiras para medir a percepção dos candidatos sobre o tema, revelou um cenário curioso entre os candidatos municipais: 20% dos respondentes disseram que não concordam totalmente que as mudanças climáticas sejam reais e provocadas pela ação humana. E a quase totalidade (95%) disse que vai priorizar a pauta climática. O número é surpreendente, mas não pode ser tomado pelo valor de face, lembrou Giovana Girardi na Agência Pública. “Vale considerar que há muitos motivos para esse tipo de resposta – desde um comprometimento real com o problema até o simples fato de que talvez, no momento atual, pegue mal demais ignorar o que os brasileiros estão passando”, escreveu.

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